sexta-feira, 17 de maio de 2024

Eliane Cantanhêde - Assombrações

O Estado de S. Paulo

Petrobras traz de volta os fantasmas Abreu e Lima, Sete Brasil, Venezuela, fundos de pensão...

Os fantasmas dos dois primeiros governos de Lula e Dilma assombram o terceiro mandato do petista, assustando especialistas, afastando investidores e criando incertezas, quando Lula poderia capitalizar a atuação rápida na tragédia no Rio Grande do Sul. A demissão de Jean Paul Prates da Petrobras desagradou ao mercado e a ambientalistas e peca por falta de senso de oportunidade. Bem no meio da crise gaúcha, que livrou Lula de falar besteiras sobre política externa.

Tudo indica que a intenção de Lula é assumir o controle da maior, mais rica e mais simbólica companhia brasileira – e também a que mais fantasmas, ou cicatrizes, deixou no PT e nele próprio. As perdas financeiras da Petrobras, nos primeiros governos petistas, não foram “só” por causa da roubalheira de partidos embolados com executivos, mas pela contenção política, populista, dos preços.

E agora? O que Lula pretende ao novamente mandar e desmandar na política de preços da Petrobras, na distribuição de dividendos extraordinários, na composição do conselho administrativo e nas próprias prioridades, inclusive de investimentos? Cobrar “o compromisso social” da empresa? E o risco de partidos aliados e o PT considerarem as porteiras abertas?

Prates saiu avisando: “Deixamos a política de preços que o presidente pediu”. Qual seja, o fim da paridade internacional, adotada por petroleiras mundo afora. E foi a pedido de Lula que ele suspendeu, e depois teve de rever, a suspensão da distribuição de dividendos extraordinários, igualmente adotada mudo afora para despertar o apetite de investidores. Detalhe: o maior beneficiário é a União.

A Petrobras perdeu R$ 55 bi em valor de mercado, em março, após o represamento dos dividendos; recuperou com a liberação de metade do valor e a previsão de liberar a outra metade até dezembro; e voltou a perder R$ 34 bi agora, com a demissão de Prates. Uma montanha-russa, com fantasmas do passado assombrando o futuro.

A Refinaria Abreu e Lima e a Sete Brasil morreram antes de atingir as metas, mas continuam insepultas, com prejuízos monumentais. Cada uma com seu fantasma de estimação na Lava Jato. O da Abreu e Lima é a Venezuela de Chávez. O da Sete Brasil, fundos de pensão de estatais. É tudo isso que Lula quer reencarnar. Sai Prates, entra a ex-diretora da ANP Magda Chambriard, que tem duas opções: enfrentar tecnicamente os embates no governo ou... fazer tudo que seu mestre mandar.

Os grandes vitoriosos na queda de Prates são os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e da Casa Civil, Rui Costa (PT). Mas quem tomou a decisão foi Lula. Para fazer o que com a Petrobras? Vamos ver...

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