O Estado de S. Paulo
O Brasil vê a Venezuela como parte do lado que vai vencendo o conflito geopolítico
Visto da perspectiva do Planalto, o ditador
Nicolás Maduro está do lado certo da história. O que o chavismo não conseguiu
há 20 anos está acontecendo agora: o fim do império americano. Lula e suas
posturas de política externa – o Brasil se mete onde nada tem a dizer e onde
tem muito a dizer quase nada consegue – são inconsequentes no caso da crise da
Venezuela, pois virou briga de cachorro grande. Rússia e China dão ao chavismo
um extraordinário grau de conforto.
Também nesse sentido Lula e sua assessoria internacional se sentem do “lado certo”, o vencedor. Entendem a grande ruptura geopolítica atual em linha com um “determinismo” no sentido de que é inevitável o triunfo do “Sul” (os pobres, os emergentes, os espezinhados pela hipocrisia ocidental) conduzido pela China.
Essa visão de mundo parte da premissa de que
valores como democracia ou direitos humanos são mero pretexto de países
ocidentais para avançar seus interesses, sobretudo econômicos. E que sanções
não passam de ferramentas para atrapalhar os contestadores dessa ordem.
É uma forma tosca, primitiva e retrógrada de
enxergar as profundas transformações na ordem internacional, mas o problema não
é o grau de sofisticação de quem toma decisões desse tipo no Planalto. Mas,
sim, em que medida o País (e não a figura de seu presidente e seu partido)
avança seus interesses no meio de tanta imprevisibilidade – algo que as
superpotências mais temem.
É muito delicada a situação brasileira. O
País é uma potência regional média com escassa capacidade de projeção de poder.
De forma bastante resumida, depende tanto de seus mercados de exportação na
Ásia quanto de seus fornecedores de insumos tecnológicos no Ocidente (no caso
da Defesa, de países da Otan).
O Brasil se tornou uma superpotência na
produção e exportação de alimentos e virou um alvo preferencial num mundo no
qual, nas palavras do embaixador Roberto Azevêdo, expresidente da OMC,
“proliferam os unilateralismos”. Ou seja, não é fácil se equilibrar entre dois
grandes rivais (China e EUA) ainda por cima num ambiente no qual um
protecionismo cada vez mais acentuado (Europa) impõe as regras no setor do
agro.
Os caminhos para se manobrar em contexto tão
complexo e delicado exigiriam do Planalto abandonar o viés ideológico na
análise dos acontecimentos internacionais e dedicar-se a um mínimo de
planejamento estratégico. Mas para que, se o mundo está caminhando para o “lado
certo”?
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