O Estado de S. Paulo
Primeiro papa dos EUA, Leão XIV é a continuidade de Francisco e contraponto a Trump
A eleição do papa Leão XIV é a confirmação de
que a secular Igreja Católica é a instituição mais política do planeta, atenta
aos ventos, circunstâncias e movimentos do mundo. Robert Francis Prevost nasceu
nos EUA, atuou duas décadas no Peru, foi decisivo na defesa dos pobres e
encarna tanto o legado do papa Francisco quanto a resistência a Donald Trump e
ao que ele representa. A expectativa é de que, por exemplo e ações, o primeiro
papa americano dê continuidade a Francisco e seja um contraponto a Trump.
A própria escolha do seu nome, Leão XIV, carrega a simbologia nesses tempos tão revoltos, com Israel e Rússia destruindo Gaza e Ucrânia e, agora, a Índia bombardeando o Paquistão. Quem inaugurou esse nome foi São Leão Magno, ou Leão I, o Grande, que defendeu a doutrina cristã nas invasões bárbaras e, conciliador, convenceu Átila, rei dos Hunos, a não atacar Roma.
Já o papa Leão XIII, o último com esse nome, deixou encíclicas históricas sobre a doutrina social da Igreja e prestigiou igualdade, ensino, ciência, diplomacia, o que reforça o caráter renovador e a identidade de Prevost com Francisco, com toda a sua grandeza e preocupação com desvalidos e minorias. Ele, com 69, tem a expectativa de um papado que atravesse duas, até três décadas. Leão XIII morreu aos 93...
Como seu passado, posições e a escolha do
nome, fica claro que Prevost, como o argentino Bergoglio, tem uma visão de
mundo oposta à de Trump, quanto a união, integração, acolhimento, pobres e
minorias.
Trump, aliás, é um feroz inimigo de
imigrantes negros, indígenas, latinos e pobres, enquanto Prevost, de origem
francesa, italiana e espanhola, nascido em Chicago, tem também nacionalidade
peruana e orgulho de sua latino-americanidade. É imigrante e defensor de
imigrantes.
Curiosidade: depois da Itália, com 17
cardeais, os Estados Unidos, com dez, têm a segunda bancada no conclave que
ascendeu Prevost a papa, seguidos pelo Brasil, com sete. Como assim? Por que os
EUA, com maioria presbiteriana, muito longe de ser um país católico, têm o
segundo maior número de eleitores do papa?
O arcebispo de Aparecida do Norte, d. Orlando Brandes, explicou na Rádio Eldorado: “Não é nenhum privilégio aos EUA, a escolha de um cardeal depende da competência, da fé, da boa fama, para que ele seja o eco do pontificado do papa e da Igreja Católica nas dioceses, paróquias e cidades onde vive”. Podemos concluir que Prevost virou papa por ter todas essas qualidades para ser um eco da doutrina da Igreja Católica e do legado de Francisco no mundo, particularmente, na América Latina e no país onde nasceu.
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