O Estado de S. Paulo.
O perigo é o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a sinalização dos seus próximos passos
Faz muito tempo que uma
reunião do Copom não acontece em meio a uma irrefutável queda tanto das
expectativas inflacionárias dos analistas quanto da inflação implícita nas
taxas dos títulos públicos, mostrando um progresso efetivo da política
monetária restritiva que levou os juros a 15%. Mas a melhora ainda é
incipiente, e o perigo é de o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a
sinalização dos seus próximos passos.
Essa é a primeira reunião em que o Copom deverá deixar a taxa Selic parada após ter indicado, em junho, que pretende mantê-la inalterada por “período bastante prolongado”. Assim, a atenção recairá sobre o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão de hoje. O desafio do Copom é dissuadir o mercado de apostar num eventual início de um ciclo de corte de juros antes do desejável, o que colocaria a perder todo o esforço do BC em levar as expectativas inflacionárias em direção à meta de 3%.
Como, porém, não evitar
uma sinalização mais suave no comunicado sem reconhecer o progresso na queda
das projeções de inflação e no câmbio sob controle, apesar dos ruídos nos
ambientes doméstico e externo? Finalmente, a estimativa para o IPCA de 2026 cedeu
abaixo do teto da meta, de 4,50%, caindo para 4,44%. Já as projeções para 2025,
que no pior momento do ano chegaram a bater em 5,68%, agora apontam para uma
inflação de 5,09%.
Na sua última reunião, em
junho, o Copom trabalhou com uma cotação do dólar a R$ 5,60. De lá para cá, o
presidente do sEU A,Donald Trump, anunciou uma tarifa de importação de 50% para
os produtos brasileiros, causando barulho político e apreensão entre os
empresários. Mesmo assim, o dólar ainda se encontra ao redor de R$ 5,60.
Aliás, essa é uma grande
incerteza para o Copom, uma vez que a sua decisão antecederá o prazo dado por
Trump para a sobretaxa de 50% entrar em vigor, a partir de 1.º de agosto.
Supondo que não se chegue a um acordo, o impacto sobre a economia brasileira deve
ser setorial, afetando produtores agrícolas e de metais, além de empresas como
a Embraer.
Logo, seria razoável
imaginar que a economia brasileira desaceleraria um pouco mais do que num
cenário sem tarifa de importação, pois as exportações representam parcela
pequena do PIB.
Se o câmbio seguir
comportado, o impacto sobre a inflação também seria comedido. Qualitativamente,
na fotografia de hoje, o balanço de riscos do Copom não se alteraria muito em
razão da tarifa de importação. Assim, é preciso que o recado do BC seja crível:
a pausa do aperto monetário vale até o fim do ano, pelo menos.
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