DEU EM O GLOBO
Há um ano o mundo concordou: era preciso adiar para Copenhague a chance de um acordo climático.
O novo presidente americano, Barack Obama, estava assumindo e, com ele, tudo mudaria.
Agora, Barack Obama quer mais um ano. A China concorda. Um perigoso retrocesso acaba de acontecer nas negociações do clima. Os maiores emissores conspiram contra o acordo.
Há quem avalie que realisticamente não há mais tempo para um acordo sólido em Copenhague, e que sem os Estados Unidos nada se fará de realmente importante nesta área.
A questão é que agora há impulso, pressão, ansiedade. As ONGs, a imprensa, a opinião pública, os cientistas, as grandes empresas do mundo, num raro momento de concordância, formaram uma forte corrente em torno de Copenhague, com contagem regressiva, mobilização e compromissos.
Há um ano o mundo concordou: era preciso adiar para Copenhague a chance de um acordo climático.
O novo presidente americano, Barack Obama, estava assumindo e, com ele, tudo mudaria.
Agora, Barack Obama quer mais um ano. A China concorda. Um perigoso retrocesso acaba de acontecer nas negociações do clima. Os maiores emissores conspiram contra o acordo.
Há quem avalie que realisticamente não há mais tempo para um acordo sólido em Copenhague, e que sem os Estados Unidos nada se fará de realmente importante nesta área.
A questão é que agora há impulso, pressão, ansiedade. As ONGs, a imprensa, a opinião pública, os cientistas, as grandes empresas do mundo, num raro momento de concordância, formaram uma forte corrente em torno de Copenhague, com contagem regressiva, mobilização e compromissos.
Agora há, como se diz em inglês, momentum. O assunto está no centro. O momento é este e nenhum outro.
Na semana passada, o Brasil se moveu. O debate interno do país, o jogo de forças dentro do governo, a pressão de pioneiros deste debate, a carta das grandes empresas, tudo junto fez o país sair da cômoda negação para o compromisso voluntário com corte das emissões.
Pode-se discutir se os compromissos deveriam ser em relação às emissões atuais, ou futuras. Pode-se dizer que os números não parecem palpáveis porque falta o principal que é o inventário atualizado das emissões brasileiras. Há vários pontos em discussão. O que é indiscutível é que o Brasil atravessou uma ponte e foi para o lado onde, há muito tempo, deveria estar.
Na reunião de cúpula da ONU, o novo primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama, aumentou a oferta japonesa. Em vez de 20%, o corte seria de 25% em relação ao nível de 1990. A Europa tem divisões, mas os europeus já perseguem metas criadas por Kioto. A China, na mesma reunião da ONU, se comprometeu pela primeira vez com algum tipo de medida: reduzir a densidade de carbono por unidade do PIB, ou seja, manter o crescimento, mas emitindo menos. A Inglaterra assumiu o compromisso de cortar em 34% suas emissões em relação a 1990. O mundo está em movimento.
E ele se move no complexo jogo de pressão que acontece dentro dos países. Todos têm dilemas e conflitos a superar. A partir de ontem, em cada país, a turma do “deixar tudo como está” se sente aliviada, porque ganhou mais um ano; o planeta perde, perigosamente, um tempo precioso.
Em Bangcoc houve conflito aberto entre Estados Unidos e China. O representante americano disse que era preciso fazer um novo acordo, e não apenas avançar a partir de Kioto. A China considerou que isso era uma traição, uma forma de minar o acordo, porque o esforço de recomeçar do zero é protelatório. Em Cingapura, Estados Unidos e China concordaram. Ontem, os dois brigaram sobre liberdade da internet, direitos humanos, e Mianmar. No domingo, se entenderam sobre adiar para o ano que vem um tratado que seja legalmente obrigatório. Dizem que só será possível um acordo “politicamente vinculante” em Copenhague.
Mas há dois anos, em Bali, quando foi feito o chamado Mapa do Caminho, era exatamente isso que se queria: ter um quadro político, e uma série de etapas intermediárias da negociação.
Andou-se muito pouco.
É reconfortante para a China e para os Estados Unidos ter mais tempo. A China adiará pressões contra seu modelo na hora difícil de retomada do crescimento acelerado; o presidente Barack Obama salvará sua face.
Por isso, quando o presidente Lula aponta o dedo e diz que eles fizeram uma espécie de “G-2” está coberto de razão. Aquele teatro, com todos os outros países que fazem parte da Associação de Cooperação Econômica da Ásia e Pacífico, é só para povoar a foto e assim esconder o acerto bilateral. A foto esconde a união dos dois maiores emissores de gases estufa a favor de deixar tudo como está, por mais um tempinho.
Como se o planeta tivesse tempo para conceder.
O mundo esperou pelos Estados Unidos e o país nunca ratificou Kioto. O mundo esperou acabar o governo do presidente-dinossauro, que negava o fenômeno da mudança climática.
O mundo deu mais um ano porque chegaria o presidente que, durante a campanha eleitoral, se comprometeu com o seu próprio povo a liderar um acordo global do clima.
E o que vai acontecer se a espera for renovada por mais um ano? Nada. A agenda americana vai tragar o presidente com guerras, reforma da saúde, crise econômica e eleição de meio de mandato em 2010. A aceitação silenciosa dessa versão “realística” das negociações climáticas vai criar para o presidente americano uma zona de conforto e tudo será relegado a segundo plano. A melhor solução seria constranger Barack Obama e pressionar a China.
A passagem já está comprada.
O mundo vai para Copenhague. Não pode ser para aceitar a derrota de véspera. O Brasil, a França, o Reino Unido, o Japão, inúmeros outros estão na confortável situação de ter dado um passo. Ou vários. O Reino Unido vem liderando essa questão desde Tony Blair, que concordava em tudo, exceto neste ponto, com George Bush. Foi ele que pôs substância econômica ao debate promovendo o relatório Nicholas Stern. Seu sucessor, Gordon Brown, continuou na mesma linha. E para Brown, ser agora ou no ano que vem faz toda a diferença: ele pode não estar mais no poder, e o governo inglês pode ser do Partido Conservador.
Momentum é aquele instante em que o impulso é tão forte que faz a chance.
Obama sabe disso. Aproveitou seu momentum e ganhou a eleição.
Com Alvaro Gribel
Na semana passada, o Brasil se moveu. O debate interno do país, o jogo de forças dentro do governo, a pressão de pioneiros deste debate, a carta das grandes empresas, tudo junto fez o país sair da cômoda negação para o compromisso voluntário com corte das emissões.
Pode-se discutir se os compromissos deveriam ser em relação às emissões atuais, ou futuras. Pode-se dizer que os números não parecem palpáveis porque falta o principal que é o inventário atualizado das emissões brasileiras. Há vários pontos em discussão. O que é indiscutível é que o Brasil atravessou uma ponte e foi para o lado onde, há muito tempo, deveria estar.
Na reunião de cúpula da ONU, o novo primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama, aumentou a oferta japonesa. Em vez de 20%, o corte seria de 25% em relação ao nível de 1990. A Europa tem divisões, mas os europeus já perseguem metas criadas por Kioto. A China, na mesma reunião da ONU, se comprometeu pela primeira vez com algum tipo de medida: reduzir a densidade de carbono por unidade do PIB, ou seja, manter o crescimento, mas emitindo menos. A Inglaterra assumiu o compromisso de cortar em 34% suas emissões em relação a 1990. O mundo está em movimento.
E ele se move no complexo jogo de pressão que acontece dentro dos países. Todos têm dilemas e conflitos a superar. A partir de ontem, em cada país, a turma do “deixar tudo como está” se sente aliviada, porque ganhou mais um ano; o planeta perde, perigosamente, um tempo precioso.
Em Bangcoc houve conflito aberto entre Estados Unidos e China. O representante americano disse que era preciso fazer um novo acordo, e não apenas avançar a partir de Kioto. A China considerou que isso era uma traição, uma forma de minar o acordo, porque o esforço de recomeçar do zero é protelatório. Em Cingapura, Estados Unidos e China concordaram. Ontem, os dois brigaram sobre liberdade da internet, direitos humanos, e Mianmar. No domingo, se entenderam sobre adiar para o ano que vem um tratado que seja legalmente obrigatório. Dizem que só será possível um acordo “politicamente vinculante” em Copenhague.
Mas há dois anos, em Bali, quando foi feito o chamado Mapa do Caminho, era exatamente isso que se queria: ter um quadro político, e uma série de etapas intermediárias da negociação.
Andou-se muito pouco.
É reconfortante para a China e para os Estados Unidos ter mais tempo. A China adiará pressões contra seu modelo na hora difícil de retomada do crescimento acelerado; o presidente Barack Obama salvará sua face.
Por isso, quando o presidente Lula aponta o dedo e diz que eles fizeram uma espécie de “G-2” está coberto de razão. Aquele teatro, com todos os outros países que fazem parte da Associação de Cooperação Econômica da Ásia e Pacífico, é só para povoar a foto e assim esconder o acerto bilateral. A foto esconde a união dos dois maiores emissores de gases estufa a favor de deixar tudo como está, por mais um tempinho.
Como se o planeta tivesse tempo para conceder.
O mundo esperou pelos Estados Unidos e o país nunca ratificou Kioto. O mundo esperou acabar o governo do presidente-dinossauro, que negava o fenômeno da mudança climática.
O mundo deu mais um ano porque chegaria o presidente que, durante a campanha eleitoral, se comprometeu com o seu próprio povo a liderar um acordo global do clima.
E o que vai acontecer se a espera for renovada por mais um ano? Nada. A agenda americana vai tragar o presidente com guerras, reforma da saúde, crise econômica e eleição de meio de mandato em 2010. A aceitação silenciosa dessa versão “realística” das negociações climáticas vai criar para o presidente americano uma zona de conforto e tudo será relegado a segundo plano. A melhor solução seria constranger Barack Obama e pressionar a China.
A passagem já está comprada.
O mundo vai para Copenhague. Não pode ser para aceitar a derrota de véspera. O Brasil, a França, o Reino Unido, o Japão, inúmeros outros estão na confortável situação de ter dado um passo. Ou vários. O Reino Unido vem liderando essa questão desde Tony Blair, que concordava em tudo, exceto neste ponto, com George Bush. Foi ele que pôs substância econômica ao debate promovendo o relatório Nicholas Stern. Seu sucessor, Gordon Brown, continuou na mesma linha. E para Brown, ser agora ou no ano que vem faz toda a diferença: ele pode não estar mais no poder, e o governo inglês pode ser do Partido Conservador.
Momentum é aquele instante em que o impulso é tão forte que faz a chance.
Obama sabe disso. Aproveitou seu momentum e ganhou a eleição.
Com Alvaro Gribel
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