terça-feira, 17 de novembro de 2009

Raymundo Costa:: Serra ensaia discurso para 2010

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Apesar do ultimato de Aécio Neves, o governador de São Paulo, José Serra, só vai anunciar em março a decisão de concorrer a presidente da República pelo PSDB. Aécio deu prazo até dezembro para a definição dos tucanos. Depois disso, informou, pretende cuidar da própria eleição para o Senado. Serra apenas mantém a estratégia de levar a decisão até o fim do prazo previsto na legislação eleitoral.

Candidato ao Senado, Aécio terá até o fim de junho para confirmar sua decisão. Se as pesquisas forem favoráveis a Serra, pode pensar em compor uma chapa puro-sangue, sonho eleitoral tucano. Caso contrário, começa de imediato o processo de reaglutinação do PSDB com vistas a 2014. Aécio tem 49 anos. A presidência do Senado é um objetivo que dependerá da relação de forças à época.

Serra será o candidato do PSDB e o fato é que Aécio nunca ameaçou a indicação do governador de São Paulo. O partido atendeu a todas as demandas do governador mineiro, mas ele nunca respondeu com uma alteração significativa nas pesquisas que levasse os tucanos a mudar de ideia. Serra é conhecido nacionalmente, tem uma sólida biografia e lidera as pesquisas de intenção de voto, mesmo tendo oscilado negativamente nos últimos levantamentos.

Quem tem voz e voto no partido diz que o PSDB e Serra deram a Aécio todas as oportunidades que ele pediu, como as viagens para encontros com a militância tucana e a divisão do programa de TV que vai ao ar este mês. Aprovou inclusive a realização de prévias, uma proposta do governador de Minas que ele próprio aos poucos foi deixando de fora do discurso de pré-candidato. Em troca, espera-se agora a adesão efetiva do governador à candidatura que o PSDB indicar.

Da mesma forma não ocorre aos dirigentes tucanos que Serra possa desistir de ser candidato em março, fim do prazo legal para deixar o Palácio dos Bandeirantes para disputar a cadeira de Luiz Inácio Lula da Silva. Isso aconteceu em 2006, segundo os tucanos, menos por vontade de Serra e mais porque Geraldo Alckmin, então governador do Estado, botou "o pé na porta" e não abriu mão de ser o indicado. Nem Serra mostra o menor sinal de que pretenda deixar escapar talvez sua última oportunidade de disputar a Presidência.

Nos momentos de maior otimismo, segundo contam interlocutores do governador, Serra chega a especular que pode ser mais fácil ganhar a eleição do que governar. Mais por conta da frenética elevação do gasto público que o atual governo deixará de herança para o sucessor que do aparelhamento da máquina administrativa. Lembra-se no PSDB que o tucano sucedeu a Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo sem nenhum incidente. Ao contrário, deu sequência a programas da ex-prefeita como os CEUs e o bilhete único.

Isso se aplicaria a programas do governo Lula, se o PSDB vencer a eleição de 2010, como o Bolsa Família. Provavelmente com aperfeiçoamentos. Em conversas reservadas, Serra também dá de ombros à tese da comparação dos "oito anos de mandato de Lula com os oito anos de FHC", como costumam instigar o presidente da República e o PT. E torce o nariz à questão "ideológica" de privatizar e não privatizar, um golpe no queixo da candidatura Alckmin nas eleições de 2006.

No governo de São Paulo, Serra operou com concessões. Quando vendeu um banco estatal, a Nossa Caixa, fez o negócio com outro agente estatal, o Banco do Brasil. Ele até tentou privatizar a Cesp, mas não conseguiu. Num desses encontros, um tucano anotou uma frase dita por Serra quando ele analisava a intenção do PT de comparar os oito anos de Lula com os oito de FHC:

"Eu tenho um perfil próprio."

Apesar de momentos de otimismo, Serra acha que enfrentará uma eleição difícil. Poucas coisas o deixam irritado, dizem os amigos. Uma é a comparação segundo a qual ele e a ministra Dilma Rousseff, a candidata do PT, têm perfis iguais.

Serra mantém um bom relacionamento com Dilma, mas uma das armas de sua campanha a presidente deve ser justamente o "currículo" - secretário de Estado, deputado federal, senador, ministro, prefeito e governador de São Paulo. Não é à toa que ele costuma dizer, em seus discursos, que currículo serve para tudo. Até para arrumar emprego.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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