DEU EM O GLOBO
Relatório enviado ao Ministério Público Federal, preparado por técnicos da Usina de Itaipu, mostra que raios caíram na região de Itaberá (SP) levando ao desligamento da primeira linha de transmissão às 13h31m. Ou seja, nove horas antes do apagão que atingiu 18 estados e o Paraguai no dia 10. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ordenara, um minuto antes, que Itaipu reduzisse a geração de energia até 19h15m, quando a usina voltou a operar. Mas nada disso impediu o blecaute às 22h13m. O governo mudou de estratégia e agora aceita que a ministra Dilma Rousseff vá ao Congresso falar do apagão.
Primeiro raio caiu 9 horas antes
Relatório de Itaipu para Ministério Público detalha eventos entre desligamento de linha e apagão
Geralda Doca e Gustavo Paul
BRASÍLIA
Os problemas nas linhas de transmissão de Furnas que se ligam à hidrelétrica de Itaipu começaram exatamente oito horas e 42 minutos antes do blecaute que apagou 18 estados e colocou no escuro cerca de 60 milhões de brasileiros na semana passada. O relatório de operações de Itaipu relativo ao dia 10 de novembro revela que às 13h31m foi desligada a primeira linha de transmissão no trecho entre Itaberá e Tijuco Preto, no interior de São Paulo, “supostamente (por causa) de descarga atmosférica”. O problema, que não chegou a abalar o suprimento nacional, foi solucionado 25 minutos depois: às 13h56m a linha foi religada. O apagão ocorreu às 22h13m.
O relatório de Itaipu, enviado ontem ao Ministério Público Federal, mostra ainda que havia uma forte preocupação por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável pela coordenação do abastecimento energético do país, com chuvas, raios e ventos no trecho de mil quilômetros entre Itaipu e a subestação de Tijuco Preto.
O relatório afirma que às 13h30m — um minuto antes de cair a linha de Furnas — o órgão determinou a redução da geração da usina em 1,4 mil megawatts (MW) “em razão de descargas atmosféricas ao longo do Sistema de 765 kV (quilovolts)”. Essa é a tensão máxima das linhas de Furnas que partem de Itaipu. A potência média da usina caiu de 10,6 mil MW para 9,2 mil MW.
A redução de potência é equivalente à produção de duas turbinas da usina. De acordo com técnicos, a redução da carga é uma medida preventiva corriqueira.
Com a redução da energia enviada, o ONS quer evitar justamente que problemas nas linhas de transmissão levem ao efeito dominó em todo o sistema e terminem num apagão nacional.
Documento indica curto-circuito
A preocupação do ONS com as condições do tempo era grande. A medida de quarentena foi longa: durou cinco horas e 45 minutos. Só às 19h15m o órgão determinou a volta do sistema à normalidade. A geração voltou para 11.780MW, próxima ao teto de 12.600MW. Duas horas e 58 minutos depois, o blecaute de proporções nacionais escureceu o país.
As causas do apagão, segundo relatório enviado ontem pelo Ministério de Minas e Energia ao Ministério Público Federal, foram “curtoscircuitos próximos à subestação de Itaberá, em São Paulo, (que) provocaram o desligamento de três linhas de alta tensão que transportavam energia da usina de Itaipu e do sistema Sul. No momento da interrupção, a região enfrentava descargas atmosféricas, ventos e chuvas intensas”.
O procurador da República Marcelo Ribeiro de Oliveira, responsável pelo processo administrativo do Ministério Público Federal, que investiga as causas do apagão na semana passada, afirmou que pediu mais dados ao ONS para esclarecer por que o órgão determinou à Itaipu reduzir o despacho de energia naquele mesmo dia.
— Quero saber por que o ONS mandou reduzir mais cedo e por que mandou voltar no início da noite.
Talvez possa ser pelo excesso de demanda (horário de pico de consumo nas casas) — disse Oliveira, acrescentando, no entanto, que isto é uma hipótese apenas. — Há uma informação adicional de que houve um abalo, uma queda na rede por volta das 13h, na mesma região onde mais tarde houve o problema.
Sem mais dados, porém, ele admite que não é possível ainda fazer uma ligação entre os problemas ocorridos mais cedo e o apagão: — Sem uma avaliação técnica e objetiva nos autos, não podemos chegar a uma conclusão.
PF deve ficar fora de investigação
Oliveira afirmou que, de acordo com os dados enviados por Itaipu, o problema não foi originado na usina.
Ontem, a assessoria da hidrelétrica limitou-se a informar que cumpriu rigorosamente todos os pedidos feitos pelo ONS.
O procurador aguarda ainda documentos a serem enviados pelos órgãos responsáveis do setor (Agência Nacional de Energia Elétrica e ONS), além dos agentes que atuam na transmissão e distribuição de energia elétrica. Além do pedido de ajuda das universidades (USP e UFRJ), o procurador enviou ontem ofício solicitando informações a Cemig e Furnas.
Ao contrário do que declarou na semana passada, os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governo não considera que o apagão é um caso encerrado. Está marcada para hoje a reunião do grupo de trabalho coordenado pelo Ministério de Minas e Energia para acompanhar os estudos e as análises das causas do blecaute.
Na sexta-feira, será realizada a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para fechar todos os dados recebidos do grupo.
Este comitê vai acompanhar e avaliar a continuidade e a segurança do suprimento energético em todo o país.
O Ministério da Justiça não vê indícios de crime no apagão e, por isso, a Polícia Federal não deverá entrar no caso, como solicitou o senador Romeu Tuma (PTB-SP). A avaliação, segundo a assessoria de imprensa da pasta, é do secretárioexecutivo, Luiz Paulo Barreto, que recebeu ontem o documento enviado pelo Senado. A assessoria informou que o caso ainda será levado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, que retorna hoje a Brasília.
COLABOROU Mônica Tavares
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