Gerson Camarotti
BRASÍLIA. Com as ameaças de aliados e até de petistas na Câmara ainda rondando o governo, a presidente Dilma Rousseff termina a primeira semana da remodelada articulação política do Palácio do Planalto com a certeza de que ainda precisa reconquistar o PMDB e pacificar o PT na Câmara. Para o primeiro desafio, chamará o vice-presidente Michel Temer para uma ação política mais efetiva no seu governo. Já com os petistas, a tarefa será mais uma vez delegada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcou ontem em Brasília e deve ter encontro reservado hoje à noite com Dilma.
Segundo caciques do partido, o próprio Lula já começou a emitir sinais aos petistas de São Paulo, que praticamente se uniram contra a presidente. O reflexo mais evidente dessa rebelião é a disposição do presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), de pôr em votação matérias que desagradam ao Executivo, como a PEC 300, que fixa o piso nacional de policiais militares e bombeiros, e a regulamentação da Emenda 29, que estabelece gasto mínimo com a Saúde.
- Só Lula pode dar um puxão de orelhas e enquadrar essa turma do PT da Câmara. Essa postura de enfrentamento é suicida - resumiu ontem um ministro petista.
A própria Dilma tem se esforçado para resolver o mal-estar com o PT da Câmara, que, liderado por Marco Maia, tentou até o último minuto impor o atual líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), como substituto de Luiz Sérgio no comando da articulação política.
Ontem, ao chegar à cerimônia do lançamento do programa Minha Casa Minha Vida 2, no Palácio do Planalto, a presidente da República estava de braço dado com Maia. Os dois desceram sorrindo a rampa do terceiro andar. Dilma fez questão de se aproximar um pouco dos repórteres para dizer:
- Nós, os brigados - indo embora sem nada mais falar.
No Palácio do Planalto, esperava-se que haveria uma trégua do PT e dos aliados, para que a nova articulação política do governo, comandada pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, apresentasse os primeiros resultados. Mas, enquanto o PMDB concordar em dar uma trégua, o PT da Câmara não esconde a sua insatisfação por ter sido preterido por Dilma.
Presidente deverá dar mais missões políticas a Temer
Já em relação ao PMDB, Dilma está sendo aconselhada a fazer gestos para uma reaproximação com os seus principais dirigentes. Deverá dar mais missões políticas a Temer. Anteontem, os dois tiveram uma conversa no Planalto. Há o consenso de que não se pode repetir o episódio da votação do Código Florestal, quanto o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ameaçou de Temer de demitir ministros peemedebistas.
- O Michel Temer tem capacidade de articulação, experiência e força política junto ao Congresso. E ganhou muito mais força com a unificação do PMDB. Por isso, é uma peça-chave para diminuir os problemas que estamos enfrentando na política. Temos que pedir ao Temer que nos ajude. Ele tem que estar no centro da articulação política do governo - disse o senador Jorge Viana (PT-AC).
O vice-presidente tem recebido diariamente uma romaria de parlamentares insatisfeitos, de todos os partidos, além de dezenas de prefeitos. O gabinete de Temer já foi apelidado no Planalto de "muro das lamentações".
FONTE: O GLOBO
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