A Venezuela se prepara para um futuro sem Chávez, mas a democracia venezuelana parece preparada para lidar com a situação
Com a posse dos novos prefeitos — e seus planos, problemas e dívidas — começam os jogos sucessórios estaduais, casados com a sucessão presidencial. No Rio de Janeiro, ao tomar posse para o segundo mandato, o prefeito Eduardo Paes, do PMDB, colocou duas pedras nessa construção. Avisou que não será candidato, ficando no cargo por mais quatro anos. E (re)lançou a candidatura do vice-governador Luiz Fernando de Sousa Pezão para suceder a Sergio Cabral. Esses movimentos repercutirão para além do Rio, estado em que a eleição de 2014 já mobiliza também o outro polo do sistema de poder, com os tucanos — sem quadros competitivos locais — buscando alternativas para enfrentar o governismo. Pensam em importar um nome forte de outro estado ou em construir uma candidatura egressa da vida acadêmica, artística ou cultural.
Recentemente, o governador foi informado oficialmente de que o PT lançará a candidatura do senador Lindberg Farias a governador. Ele recebeu a notícia com tranquilidade, considerando legítima a pretensão petista mas, pelo visto na posse de Paes, continua disposto a bancar o nome de seu vice, embora tenha desistido de renunciar para que ele disputasse no cargo de governador. Se isso se confirmar, significará o rompimento da aliança costurada pelo ex-presidente Lula, que garantiu a hegemonia da coalizão PT-PMDB no estado.
É sensata a decisão de Paes de permanecer na prefeitura numa quadra em que o Rio sediará jogos importantes da Copa e estará em plena preparação para as Olimpíadas de 2016. A população não costuma perdoar governantes que, uma vez eleitos, partem para outras disputas, como fez José Serra em São Paulo, ao deixar a prefeitura depois de dois anos no cargo para se eleger governador. Paes é bastante jovem, tem um ambicioso programa de investimentos na cidade e pode esperar. Em princípio, concorreria ao governo em 2018.
Já a ruptura da aliança local PT-PMDB pode ser boa para a oposição e ter reflexos negativos para a presidente Dilma na disputa da reeleição em 2014. Ao PSDB falta até mesmo um candidato que ofereça um palanque robusto para Aécio Neves na disputa presidencial. Mas há também uma terceira força, representada pelo grupo do ex-governador Anthony Garotinho, onde também há novidade. Ali se avalia que a ex-governadora Rosinha Mateus pode ser uma candidata mais competitiva que o marido. É mulher, é mais bem aceita em algumas áreas da classe média e tem grande força eleitoral na Baixada Fluminense.
Esses movimentos não deixam dúvidas. 2013 está apenas começando, mas o jogo para 2014 já está sendo feito.
Chávez e o futuro
A Venezuela vive um momento dramático. Os seguidores de Hugo Chávez sofrem com as notícias e os boatos sobre seu grave quadro de saúde e a oposição cobra mais transparência. Se Chávez não puder tomar posse para o novo mandato, no próximo dia 10, terá que haver uma mudança constitucional alterando a data. Ou, talvez, a posse do presidente da Câmara como interino, para convocar novas eleições em caso de morte ou impedimento definitivo do presidente reeleito. A verdade é que a Venezuela se prepara para um cenário sem Chávez que, segundo seu vice, Nicolás Maduro, que o visitou em Cuba, “tem consciência da gravidade de seu estado’’.
Não será fácil, mas a democracia venezuelana parece preparada para lidar com a situação. Chávez, tantas vezes chamado de ditador, governou dentro da institucionalidade existente. Parecem, porém, exageradas as notícias de que uma ausência de Chávez teria reflexos sobre toda a América do Sul, onde quase todos os governos são de centro-esquerda. Ainda que existam afinidades entre eles, todos foram eleitos por razões estritamente nacionais, não por influencia do líder venezuelano.
Ottoni Fernandes
Será sepultado amanhã, em São Paulo, o jornalista Ottoni Fernandes, que morreu no dia 30. Na juventude, deu combate à ditadura como militante da ALN. A militância e a vida de preso político foram narradas em seu livro de memórias O Baú do Guerrilheiro. No jornalismo, buscou a tecnologia e a renovação em suas passagens por veículos como Gazeta Mercantil, Isto É, Exame e Desafios do Desenvolvimento. No governo Lula, como secretário executivo da Secom, foi o braço direito de Franklin Martins na implantação de mudanças importantes na comunicação governamental, como a descentralização e a adoção de critérios técnicos na distribuição da publicidade oficial. Era diretor internacional da EBC.
Fonte: Correio Braziliense
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