Para analistas, manifestações no país põem adeptos do confronto em evidência no comando da oposição
Janaína Figueiredo
BUENOS AIRES — O futuro do governo do presidente Nicolás Maduro não é a única grande incógnita que tira o sono dos políticos venezuelanos. Enquanto Maduro luta para conter a onda de protestos que está se espalhando pelo país e que já provocou a morte de 16 pessoas nas últimas três semanas, o governador do estado de Miranda e ex-candidato presidencial Henrique Capriles enfrenta uma silenciosa disputa interna pela liderança opositora. O que, na visão de analistas locais ouvidos pelo GLOBO, ameaça sua até pouco tempo indiscutida posição de chefe máximo da oposição.
Capriles ainda é considerado por muitos o principal homem da Mesa de Unidade Democrática (MUD) e da oposição em geral, mas sua posição, conquistada após duas eleições e, principalmente, a derrota por apenas 225 mil votos nas presidenciais de abril de 2013 contra Maduro, está em debate. O fortalecimento de Leopoldo López, que continua preso, e de figuras como a deputada Maria Corina Machado e o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, abriu uma crise que parece estar apenas começando.
— Capriles ainda é líder da oposição, mas sua liderança já não é inquestionável. Hoje ele tem rivais — afirmou Ignácio Ávalos, membro da ONG Observatório Eleitoral Venezuelano (OEV).
Para ele, “não esta claro qual das duas estratégias opositoras (a mais conciliadora, de Capriles, e a mais radical, de López) tem hoje mais peso dentro da oposição”.
— A prisão de López tem um valor emocional importante — disse Ávalos.
Discurso mais cauteloso
Capriles iniciou uma etapa de maiores críticas internas em dezembro, depois de assumir o comando da campanha opositora nas municipais de 8 de dezembro, que terminaram com uma vantagem de cerca de 8 pontos percentuais para o chavismo. Muitos, entre eles López e Maria Corina, responsabilizaram, em discussões internas, o governador pela derrota e começaram a promover a ideia de ir para as ruas exigir a saída de Maduro, em meio a uma delicadíssima crise econômica. Longe de aderir à campanha de López, um antigo aliado político, Capriles manteve um discurso mais cauteloso, apesar das pressões dos setores mais radicais da MUD.
— Sua estratégia é considerada conservadora por alguns opositores. Capriles não está de acordo com o lema “Maduro saia já”, nem com as barricadas anárquicas — explicou o membro do OEV.
Sua jogada, disse Ávalos, “é arriscada”, num país no qual a violência e o clima de insatisfação são cada vez maiores. Para a jornalista Gloria Bastidas, articulista do “El Nacional”, “Capriles continua sendo líder da oposição, mas seu futuro dependerá de como conseguirá se conectar com o que estamos vivendo nas ruas”.
— Henrique (Capriles) é um homem que sempre apostou pela via institucional. Agora, com esta crise, tudo dependerá da evolução dos protestos. Ele poderia terminar nas ruas, mas sempre de forma pacífica — opinou Gloria.
Após decidir não participar do encontro com governadores convocado por Maduro, Capriles divulgou na terça-feira no Twitter uma lista de dez pontos fundamentais para sair da crise, que incluem a libertação dos presos políticos, entre eles López, e o desarmamento de grupos paramilitares. O governador pediu, ainda, que a Igreja Católica atue como mediadora. As exigências de Capriles também incluem o fim da violência, da repressão, das violações dos direitos humanos, a saída dos cubanos das Forças Armadas, deixar de “dar nosso petróleo de presente enquanto existam venezuelanos que passem necessidades” e o fim das pressões à mídia privada.
— Leopoldo (López) acelerou um processo político, e Capriles tenta encontrar novamente seu lugar. Acho que seus últimos movimentos mostram que está buscando recuperar a iniciativa e não perder espaços — concluiu Gloria.
Fonte: O Globo
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