Neste pré-carnaval, no quesito força moral, o destaque foi para Preta Gil, que, no grito, acabou com uma briga que ameaçava degenerar
Em matéria de organização e civilidade, este pré-carnaval ainda deixou muito a desejar, mas já representou um avanço em relação ao do ano passado, que, por sua vez, foi mais bem organizado do que o do ano anterior, servindo de lição para os que achavam que brincar na rua era incompatível com a ordem. Melhorou porque os dois lados fizeram a sua parte. A prefeitura providenciou mais banheiros químicos, reuniu-se com os diretores de blocos e estes se empenharam em conscientizar seus foliões. Mas, sobretudo, houve mais fiscalização e repressão aos sugismundos, mijões e infratores em geral. Uma centena deles foi presa e multada por espalhar maus modos e mau cheiro pela cidade. A pedagogia da punição funcionou mais do que as campanhas de persuasão.
Há, porém, muita coisa a fazer para provar que no carnaval a ordem não é retrocesso, é progresso. Algumas medidas simples poderiam ser adotadas nos shows da praia, por exemplo, como colocar o palco voltado para o mar e não para o lado dos prédios, como foi feito domingo à tarde, invadindo os apartamentos com um som altíssimo e nem sempre desejado. A providência levaria a multidão para a areia e, assim, os moradores da orla não ficariam presos em casa durante a apresentação dos blocos que “concentram, mas não saem”.
Aliás, no ano passado, Fernanda Montenegro, apreciadora do carnaval, fez um apelo que não foi atendido (como não ouvir Fernanda, prefeito?). Ela sugeria liberar para o trânsito a pista junto aos edifícios e reservar a outra, com o calçadão e a praia, para os foliões se esbaldarem. Quando seu marido era vivo, eles se mudavam para um hotel de onde pudessem se locomover se ele, em cadeira de rodas, precisasse de atendimento. A solução contemplaria os que querem brincar e os que necessitam sair de casa numa emergência.
Neste pré-carnaval, no quesito força moral, o destaque foi para Preta Gil, que, no grito, acabou com uma briga que ameaçava degenerar. Com um discurso vigoroso contra o “bando de marginais” e a favor da diversidade — “este bloco é de quem ama o próximo e aceita a diferença” — ela ameaçou acabar com a festa se não acabassem logo com a confusão. Imediatamente a paz voltou a reinar entre os 500 mil foliões que a seguiam. Que tal, em vez de polícia nas manifestações de protesto, chamar Preta Gil?
Domingo, O GLOBO em editorial, e Caetano em sua coluna lembraram que os dois rapazes do rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade negaram que fizessem parte dos black blocs, o que contraria o que escrevi com base em evidências. Digamos então que não houve pertencimento, só afinidade, se é que no caso isso faz diferença. De qualquer maneira, fica o registro.
Fonte: O Globo
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