- O Globo
• Imagina depois da Copa. O que fazer sem esse ópio do povo, como se dizia antigamente? A overdose já está me levando a misturar times e partidas
Oproblema de escrever antes do jogo, como estou fazendo agora, é que tudo pode ser desmentido ou ultrapassado quando for lido amanhã (hoje, para o leitor). Então por que escreve? Por que não trata de outro assunto? É simples, é porque não consigo prestar atenção em mais nada, a não ser na Copa. Nesses dois últimos dias, experimentei a tal da síndrome de abstinência pela suspensão brusca do consumo de jogos. Imagina depois da Copa.
O que fazer sem esse ópio do povo, como se dizia antigamente? A overdose já está me levando a misturar times e partidas. Não sei mais quem venceu quem nem quem foi para os pênaltis além do Brasil. Para não cometer gafes, arriscando palpite errado ou análise furada, vou me ater a questões que dominaram o noticiário da semana. Uma é tática.
Depois do último jogo, houve consenso entre os colunistas esportivos de que a má atuação do nosso time era devida principalmente à falta de um meio-campo capaz de juntar defesa e ataque.
Daí aqueles chutões sem rumo, o curto-circuito na ligação direta, as saídas frustradas, a ausência de um armador de jogadas. Como eram observações de profissionais especializados, alguns com mais tempo de ofício do que Felipão de treinador, eu me perguntava: será que só ele não vê isso? Espero que finalmente ele, teimoso, tenha considerado as críticas.
A outra questão importante é de ordem psicológica. Trata-se das discutíveis condições emocionais da equipe, em consequência da pressão criada pelo próprio Scolari, com aquele discurso ufanista de que o Brasil era o melhor e tinha que ser campeão. Isso pesou de forma dramática nas costas dos jogadores, provocando em alguns uma crise de choro na hora da decisão contra o Chile, o que teria motivado um chamado de urgência da psicóloga Regina Brandão. Parecia então que um bom desempenho da equipe ia depender da terapeuta.
Na entrevista coletiva dada junto com Thiago Silva, o treinador desmentiu, indignado, essa versão e disse que ela sempre acompanha a seleção e que as conversas havidas estavam previamente combinadas. Aí aconteceu uma coisa curiosa. Dos dois entrevistados, o mais sereno e equilibrado foi o jogador, tão criticado por seu suposto desequilíbrio emocional na hora dos pênaltis. Ele considerou o choro natural e explicou:
“Eu me entrego de corpo e alma.” Já o treinador, impaciente, irritadiço, demonstrou seu estado de espírito ao mandar “pro inferno” quem não gosta de seu estilo.
Para mim, daqui a pouco vai começar o jogo que vocês já viram. Tomara que as questões apresentadas tenham sido superadas pela vitória que a pátria sem chuteiras tanto esperava.
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