Reynaldo Turollo Jr., Catia Seabra – Folha de S. Paulo
Com o desfecho do processo de impeachment deixado para 2016, ano de eleições municipais, deputados que deverão ser candidatos a prefeito admitem sofrer pressão dos eleitores para votar pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff na Câmara. Enquanto uns afirmam que não vão ceder, outros evitam se posicionar.
Pré-candidato do PMDB à sucessão de Eduardo Paes na Prefeitura do Rio, o ex-secretário municipal Pedro Paulo acaba de reassumir seu mandato na Câmara, em um movimento visto como uma forma de engrossar a bancada pró-Dilma na Casa.
Ele rechaça a hipótese de ser penalizado na eleição por causa do apoio ao PT.
"O Brasil precisa sair da crise, recuperar a economia, e não acredito que a equipe que assumiria [em caso de impeachment] seja capaz de melhorar o país", afirma, em referência ao vice de Dilma, Michel Temer, que também preside o PMDB.
Já Dagoberto Nogueira (PDT-MS), que deve disputar a Prefeitura de Campo Grande, admite que há em seu Estado um "clamor" pelo impeachment, mas garante que seguirá a posição de seu partido, que é da base do governo e "contra o golpe". Para o deputado, as pedaladas fiscais não são argumento jurídico para o afastamento.
"Isso pode me trazer prejuízo, sim, mas não posso deixar de defender o que eu penso e a tese do meu partido", afirma, acrescentando que seus eleitores saberão reconhecer sua "coerência".
Deputado pelo PSOL, partido de oposição ao governo, mas contrário ao impeachment, Edmilson Rodrigues (PA) é cotado para concorrer à Prefeitura de Belém.
"Na avaliação do PSOL, não é legítimo [o impeachment] porque o argumento das pedaladas fiscais não é base para isso", diz. "Vamos votar no que acreditamos. Não estamos preocupados com as consequências eleitorais."
Oposição na base
No sentido contrário, há deputados de partidos da base a favor do impeachment.
Marcelo Belinati (PP), pré-candidato a prefeito de Londrina (PR), defende o afastamento da presidente porque "grande parte de seu governo e de seu partido têm envolvimento [na Lava Jato]".
"Não sou da base coisa nenhuma. Capaz de eu ser mais oposição que o PSOL", diz.
Postulante ao cargo de prefeito do Rio, Indio da Costa (PSD) já avisou ao ministro Gilberto Kassab (Cidades), fundador de seu partido, que votará pelo impeachment. "Quem ficar ao lado do PT terá dificuldade."
Pressionar os deputados em seus redutos é uma das apostas dos grupos pró-impeachment, como MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua, para angariar votos contra Dilma na Câmara.
No último domingo (13), em São Paulo, o MBL levou para a avenida Paulista um balão com a foto do deputado federal e pré-candidato a prefeito Celso Russomanno (PRB-SP), cujo partido é da base do governo.
"Vocês vão deixar um aliado da Dilma ser prefeito?", gritavam integrantes do MBL.
Procurado pela Folha, Russomanno não quis responder.
Possível candidato a prefeito de Belo Horizonte, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) minimizou a pressão eleitoral sobre seu voto na Câmara. Disse que sua posição observará critérios técnicos e jurídicos, e não quis adiantá-la.
Valadares Filho (PSB-SE), que deve concorrer a prefeito de Aracaju, prefere esperar seu partido fechar uma posição sobre o impeachment antes de se manifestar.
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