• Alvo da Lava Jato, presidente do Senado agora aposta em novo status adquirido após decisão do Supremo para se defender à frente do cargo
Adriano Ceolin - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Ao encerrar a última sessão deliberativa do Senado deste ano, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) deixou o plenário com um livro dos autos do impeachment do ex-presidente Fernando Collor nas mãos. Passava das 19h da quinta-feira passada e fazia apenas alguns minutos que o Supremo Tribunal Federal decidira que o Senado – e não a Câmara dos Deputados – será a esfera que determinará a suspensão da presidente Dilma Rousseff do cargo em caso de aprovação de um pedido de afastamento. Segundo pessoas próximas a Renan, ele está convicto de que seu cacife político “triplicou” para 2016, ano em que deve ser concluída a investigação sobre seu envolvimento na Operação Lava Jato.
Na saída do plenário, Renan sorria e era ladeado pelos colegas Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE). Os dois são aliados do presidente do Senado, mas nas últimas semanas atuaram em frentes opostas dentro do PMDB. Enquanto Jucá tentou ajudar a consolidar o nome do vice-presidente Michel Temer como sucessor de Dilma, Eunício trabalhou em favor do atual governo.
Essa dicotomia indica como deve ser a postura de Renan no próximo ano. “Ele será independente. Em princípio, se portará como aliado de Dilma. Porém, se o governo perder o rumo, ele pode apoiar o impeachment dela”, resume um auxiliar do presidente do Senado.
Com a decisão do STF em favor do Senado, Jucá concorda que a tese do impeachment de Dilma refluiu e o possível rompimento do PMDB com o governo também. No entanto, ele avalia que “tudo pode mudar” no ano que vem. “Toda a questão é econômica. A política é consequência. Se economia estiver se resolvendo, a política se ajusta”, disse Jucá. Já para o senador Eunício Oliveira será “natural” um rearranjo de forças na próxima convenção do PMDB, prevista para março. Atual presidente nacional da sigla, Temer aposta que o grupo do Senado tentará tomar o comando partidário.
Até agora, a estratégia dúbia de Renan tem dado certo. No começo do ano, ele esteve a ponto de romper com Dilma quando a presidente decidiu demitir o ministro Vinícius Lages da pasta do Turismo para dar lugar ao ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que fora apoiado pelo vice-presidente em dobradinha com a bancada da Câmara. A partir do segundo semestre, porém, Renan viu uma janela de oportunidade para se cacifar com Dilma quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resolveu partir para o confronto direto com o Palácio do Planalto. Na sequência, ele ajudou Dilma a reconduzir o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao cargo por mais dois anos.
Recompensa. Renan também ampliou suas incursões no STF, sempre com a cerimônia devida. Jamais foi à Corte sem interlocutores acertarem a visita com a antecedência. Também evitou dar declarações sobre os inquéritos contra ele. Na semana passada, teve a sua maior recompensa. O ministro Teori Zavascki negou pedido de busca e apreensão na sua residência. Foram autorizadas apenas buscas no diretório estadual do PMDB de Alagoas, que é presidido por Renan. O episódio foi comemorado no gabinete da presidência do Senado.
Os desdobramentos da Operação Lava Jato, que revelou um esquema de corrupção na Petrobrás, terão influência sobre o humor de Renan. O presidente do Senado afirma que até agora “não há nada de concreto contra ele”. Pessoas próximas ao senador ressaltam que o primeiro inquérito contra ele já foi prorrogado por quatro oportunidades “sem avanço nas investigações”. O nome de Renan surgiu pela primeira vez depois que o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa declarou que ele recebia propina por intermédio do deputado Aníbal Gomez (PMDB-CE). O presidente do Senado negou essa versão.
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