Por Andrea Jubé e Daniel Rittner | Valor Econômico
BRASÍLIA - Dez dias depois da fase mais aguda de turbulência política, desde a delação premiada do grupo JBS, o presidente Michel Temer acredita que ganhou fôlego e que os sinais de recuperação da economia ajudarão o PMDB a continuar no Palácio do Planalto. Temer chegou a cogitar a renúncia no dia em que a crise eclodiu, mas agora sua expectativa é que o pacote de bondades preparado para a próxima semana dê sobrevida ao governo. Ontem, o presidente divulgou nas redes sociais novo pronunciamento, manifestando esse otimismo e agradecendo o apoio do Congresso.
"O trabalho continua e vai continuar. Temos muito ainda a fazer e esse é o único caminho que meu governo pretende seguir: colocar o Brasil nos trilhos", afirmou. "Continuamos avançando e votando matérias importantíssimas no Congresso Nacional", comemorou. "Deputados e senadores continuaram a trabalhar em favor do Brasil", ressaltou, a fim de demonstrar que a crise não esvaziou o parlamento.
No Planalto, a aposta é de que "a economia vai segurar o governo". Para isso, foi concebida uma agenda positiva turbinada para os próximos dias, com afagos para a base aliada e os empresários. As medidas provisórias relativas ao refinanciamento das dívidas dos empresários (Refis) e dos produtores rurais (Funrural) estão prontas no Ministério da Fazenda. A pedido de Temer, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, passou os últimos dias num ritmo de esforço concentrado em reuniões para arrematar as negociações.
Também na próxima semana, o governo vai se empenhar para aprovar a reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Em outra frente, Temer voltará à cena em duas solenidades no Planalto para anunciar "bondades", depois de quase duas semanas recluso, aparecendo apenas para as declarações à imprensa.
Estão previstos, em solenidades diferentes, os lançamentos do Plano Safra do Agronegócio e do Plano Safra da Agricultura Familiar, com acenos para os produtores rurais e para os pequenos agricultores.
Também se conta com o noticiário positivo em torno de uma queda de, no mínimo, um ponto percentual da taxa básica de juros em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Os diretores do Banco Central se reúnem nos dias 30 e 31. A taxa hoje está em 11,25% ao ano e ficará perto de um dígito.
Ao contabilizar os resultados positivos de recentes votações, Temer destacou que foi aprovado um "número expressivo" de medias provisórias - sete em uma semana, num momento em que nos bastidores até aliados debatiam a sua sucessão.
"A confiança [na quarta-feira] era tão grande que o [deputado Carlos] Marun queria votar até a reforma da Previdência", disse um governista. A oposição facilitou a vida da base aliada, depois que deputados do PT, PSB, Rede e PSOL deixaram o plenário da Câmara, suspendendo as obstruções e permitindo que o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) acelerasse as votações.
No mesmo pronunciamento, o presidente disse que a regularização fundiária está entre as "matérias vitais" para o país, lembrando que há milhões de brasileiros que vivem sem a posse legal de suas casas. "Isso mudará. O governo vai entregar a escritura para famílias carentes de todo o país", prometeu.
Temer reafirmou o compromisso com o combate ao desperdício de dinheiro público". Segundo ele, medida já adotada promoveu um "pente-fino" no auxílio doença que já economizou mais de R$ 1 bilhão. "Podemos chegar a mais R$ 8 bilhões. Esse dinheiro vai ajudar a investir mais no social", assegurou.
A aprovação da medida que garantirá a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os dois grupos de trabalhadores que ainda faltam também recebeu destaque no pronunciamento do presidente da República. Ele considera que a iniciativa garantirá a injeção de mais de R$ 40 bilhões na economia brasileira, "ajudando no fim da recessão".
Ontem Temer também comandou uma reunião com empresários do ramo da construção civil e do grupo Lide, ligado ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que gravou um vídeo declarando que mantém o apoio ao pemedebista. Temer almoçou com o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.
Perplexo com o caos político instantaneamente disseminado pela denúncia de que teria dado aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, o presidente flertou com a ideia de renunciar na noite do dia 17, enquanto uma tempestade desabava sobre Brasília em pleno início de seca.
Passados dez dias, o clima mudou: a avaliação interna é que o governo saiu da zona de turbulência, ainda que temporariamente. "Nossa expectativa no início desta semana era uma, mas ela está terminando melhor do que imaginávamos", compara um ministro, com expressão de alívio. "O presidente não está sorrindo à toa, é claro, mas estamos mais tranquilos".
Naquela quarta-feira à noite em que considerou renunciar, Temer sentiu que era alvo de uma indignidade. "Não vou me submeter a um linchamento político", disse a interlocutores próximos. "Eu tenho uma biografia", ressaltou, mencionando suas obras de direito constitucional e a quantidade de exemplares vendidos. "Já dei aula para 50 mil alunos, já fui lido por mais de 400 mil pessoas."
Três ministros foram para o Palácio do Jaburu e passaram o fim de noite cuidando de demovê-lo: Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo). O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), juntou-se ao grupo. Após as conversas e os ânimos serenarem, Temer mudou de ideia e a palavra de ordem agora é resistir até o fim. (Colaboraram Bruno Peres e Rafael Bittencourt)
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