Em vídeo nas redes sociais, presidente tenta dar ares de normalidade ao país
Leticia Fernandes e Eduardo Barretto | O Globo
-BRASÍLIA- Em tentativa de dar ares de normalidade ao governo, no epicentro da crise política, o presidente Michel Temer divulgou ontem um vídeo nas redes sociais para dizer que o Brasil “não parou e nem vai parar”, elogiar o “empenho” da base aliada nas votações e falar das realizações de sua gestão. Com as reformas em risco por conta das denúncias que o envolvem, feitas pelo dono da JBS, Joesley Batista, e no dia seguinte à manifestação contra seu governo, em Brasília, o presidente comemorou até a aprovação de medidas provisórias (MPs) na Câmara.
No vídeo, Temer diz que as manifestações contra o seu governo e contra as reformas trabalhista e da Previdência, que acabaram em violência, com destruição de patrimônio público e tiros de arma de fogo por parte da Polícia Militar, tiveram “exageros”, mas que nem por isso o Congresso deixou de trabalhar. Ele elogiou, por exemplo, a aprovação pela Câmara de sete medidas provisórias na noite de quarta-feira, num plenário sem a presença de integrantes da oposição.
Temer também elogiou o fato de a reforma trabalhista ter avançado no Senado — o relatório foi dado como lido em comissão, mas uma forte reação da oposição, que pedia a saída de Temer, fez com que a sessão da última terça-feira fosse suspensa, impedindo a votação do relatório.
— O Brasil não parou e nem vai parar. Continuamos avançando e votando matérias importantíssimas no Congresso Nacional. As manifestações ocorreram com exageros, mas deputados e senadores continuaram a trabalhar em favor do Brasil. E aprovaram número expressivo de medidas provisórias, sete em uma semana, e a reforma trabalhista avançou no Senado, expressão portanto do compromisso em superar a crise — afirmou Michel Temer no vídeo.
O presidente citou a última fase do saque das contas inativas do FGTS e o pente-fino que encontrou fraudes no auxíliodoença como conquistas de seu governo. Ele disse que, com esse tipo de medida, está “combatendo o desperdício de dinheiro público”. Temer também mencionou em detalhes a MP da regularização fundiária, aprovada ontem pela Câmara.
— Meus amigos, o trabalho continua, vai continuar. Temos muito ainda a fazer, e esse é o único caminho que meu governo pretende seguir, colocar o Brasil nos trilhos. Portanto, vamos ao trabalho — disse Temer.
Desde o último dia 17, quando o GLOBO mostrou que Temer ouviu Joesley Batista, dono da JBS, relatar crimes, como obstrução de Justiça, com aliciamento de juízes e procuradores, o governo vive o seu pior momento, com aliados admitindo que a governabilidade foi perdida. Temer insiste que não renunciará ao cargo, mas poderá perdê-lo no TSE, que julga, no próximo dia 6 de junho, a cassação da chapa que integrou junto com a ex-presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014,
Acuado, o presidente vê a base aliada diminuir e as reformas econômicas, carroschefe de sua gestão ganharem futuro incerto. Na semana passada, o Palácio do Planalto ainda não tinha votos para aprovar a reforma da Previdência na Câmara. Desde então, o cenário piorou e a tramitação dessas matérias, nas duas Casas, está atrasada.
O clima beligerante do lado de fora do Congresso contaminou os parlamentares na última quarta-feira: enquanto um ministério era incendiado e manifestantes e policiais entravam em confronto, deputados se empurraram no plenário e houve tumulto. Um dia antes, foi a vez de senadores trocarem xingamentos e de ameaças de agressões físicas, na comissão da reforma trabalhista.
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