- Folha de S. Paulo
Avanços na computação ajudariam a solucionar o problema do cálculo socialista
Hoje, são poucos, mesmo entre autores socialistas, os que defendem a viabilidade de uma economia centralmente planificada pelo Estado, mas nem sempre foi assim.
Ao fim da Primeira Guerra, o filósofo austríaco Otto Negras tentou usar a experiência da economia de guerra —na qual o Estado interveio pesadamente, estabelecendo não só o que seria produzido como também a destinação que teria— como exemplo da superioridade do socialismo com planejador central sobre as forças de mercado.
Nem todos se convenceram. Economistas da Escola Austríaca, notadamente Ludwig von Mises e Friedrich Hayek discordaram. Para eles, só os mercados, através da flutuação dos preços, são capazes de calcular em tempo real aquilo que a sociedade deseja e pode produzir, levando à melhor alocação dos recursos. A querela ficou conhecida como problema do cálculo socialista.
Como relata William Davies no excelente “Nervous States”, Von Mises admite que governos poderiam em princípio fazer essa conta, mas teriam de ir a campo para coletar informações, desenvolver modelos matemáticos e rodá-los. Ao fim do processo, a realidade já seria outra.
O fracasso do socialismo real acabou dando razão à Escola Austríaca. Mas, como ideias nunca morrem, há quem afirme que, com os avanços na computação, as dificuldades de cálculo já são ou muito em breve serão superadas. Outras possibilidades incluem sistemas de controle por redes descentralizadas.
E dá para ir ainda mais longe. Num contexto em que muitas de nossas decisões de compra são influenciadas por algoritmos, podemos imaginar até redes que deem início à produção daquilo que iremos adquirir antes mesmo de apertarmos o botão para comprar.
A questão é saber se a razão principal para o ocaso do socialismo foi apenas o problema do cálculo ou se concorreram outros fatores, como incentivos perversos ou mesmo falhas na natureza humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário