- O Estado de S. Paulo
O Banco Central deixou claro que precisa de um “avanço concreto” na reforma da Previdência
Com uma agenda de medidas para acelerar a retomada da economia à espera da votação da reforma da Previdência, a equipe econômica está na mão da Câmara dos Deputados para fechar um acordo de votação da proposta antes do recesso parlamentar.
O acordo parecia mais distante depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, bateu de frente com os líderes ao atacar a nova versão do texto, preparada e negociada pelo relator Samuel Moreira.
Em uma semana, porém, os ânimos nos bastidores se acalmaram. Sob a liderança do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o acordo para garantir a votação da proposta no plenário da Casa avançou.
Nas entrelinhas dessa articulação, a ideia é seguir com o carimbo de protagonismo da Câmara na aprovação da reforma e, mais ainda, no empurrão que falta para a queda dos juros.
O receio de deixar esse tema tão caro para o crescimento em aberto e sujeito à crise global — e, eventualmente, escândalos locais — pode fazer os parlamentares acelerarem o passo. Ninguém quer ser responsabilizado, mais tarde, pela piora da economia.
Tudo bem calculado.
É que a redução dos juros pelo Banco Central está intrinsecamente vinculada à reforma da Previdência. O recesso começa no dia 18 de julho. Se a reforma for aprovada antes, o BC poderá cortar a Selic na reunião de 30 de julho do Comitê de Política Monetária.
Economistas ouvidos pelo Broadcast, o serviço em tempo real do grupo Estado, acreditam que o Copom possa cortar a Selic já em julho. Mas se a votação ficar apenas para agosto, depois do recesso, o comitê deixaria para iniciar o ciclo de afrouxamento monetário para setembro, retardando a retomada.
O BC deixou claro no comunicado da decisão do Copom desta semana, que manteve a taxa Selic em 6,5% ao ano, que precisa de um “avanço concreto” na reforma da Previdência. Até esse momento, essa expressão tem sido interpretada pelos investidores como uma referência à votação no plenário, e não na comissão especial. Por isso, a correria para fechar o acordo de votação — ontem, as indicações eram positivas nessa direção.
De olho no acordo para a votação, Guedes parou de reclamar d o parecer. De fato, ele é robusto ao garantir uma economia de despesas maior do que se esperava. Agora, o ministro se movimenta para mostrar que traçou um plano de ação para o crescimento nos primeiros seis meses de governo — e que não se restringiu a fazer apenas um diagnóstico dos entraves econômicos do País.
A crítica de que o ministro não tem projeto para o País ganhou força depois que ficou claro que 2019 será praticamente um ano perdido para o crescimento, mesmo com a aprovação da reforma — já na conta dos investidores e empresários.
Para desfazer a percepção de inação, o Min tem divulgado “aqui e acolá” medidas que já estariam prontas. Nada, porém, saiu da gaveta para não atrapalhar a votação da reforma na comissão especial. Em encontro recente com empresários, o ministro chegou a dizer que pretende deflagrar nossas medidas de estímulos em seguida. “Não pudemos declarar antes porque, se você começa a fazer isso sem ter feito reformas, é voo de galinha, tentativas estéreis.”
Mensagens dos economistas do ministro têm circulado nas redes sociais com informações sobre os principais planos do governo, como o fim de dois monopólios estatais: refino de petróleo e gás natural.
A lista da equipe econômica inclui medidas de desburocratização, abertura do mercado financeiro, mudanças na Caixa e Petrobrás e o leilão do pré-sal, que “dormia” há quatro anos e pode trazer bilhões para União, Estados e municípios.
Previsto para os próximos dias, o lançamento do programa Novo Mercado de Gás é uma das principais apostas para reindustrializar o País. A ideia é chegar a uma redução de até 50% do preço do gás com medidas que promovam concorrência e transparência dos custos.
O desafio será justamente materializar esses benefícios no curto prazo. Os volume de gás natural oriundos do pré-sal só devem aumentar apenas em 2023. Já a regulamentação das principais medidas depende da adesão dos Estados, que será voluntária e, obviamente, enfrentará resistências e levará anos.
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