Eleição, economia, pandemia e o novo ministro terrivelmente amigo no STF
Outubro será agitado, com as campanhas eleitorais aprendendo a contornar a
pandemia (que ainda mata mais de “dois Boeings” por dia), o governo e o
Congresso convergindo para desoneração da folha de pagamentos compensada por um
novo imposto e o presidente Jair Bolsonaro se divertindo com a aflição dos
muitos candidatos à vaga de Celso de Mello no Supremo, porque ele já tem
dois nomes no colete: Jorge Oliveira e André Mendonça.
Bolsonaro está no centro de toda essa
efervescência, mexendo as peças sem se queimar e entrando no jogo apenas em
caso, e na hora, da vitória. Só apoiará candidato para ganhar, só apoiará o
novo imposto depois de Paulo Guedes e o Centrão garantirem o resultado e só vai
anunciar o novo ministro do STF depois de ter sugado o possível dos candidatos
frustrados.
Até aqui, ninguém deu bola para a eleição
municipal e o interesse do eleitor continua caindo a cada pleito, mas a
tendência é esquentar, com foco óbvio em São Paulo, pelo seu peso político e
econômico, no Rio, pela chocante situação de governador e prefeito, e nos
neófitos, como o próprio Wilson Witzel, que caíram de paraquedas pelo sopro do
bolsonarismo. Elegerão seus candidatos?
Em São Paulo, Celso Russomanno
(Republicanos) conta com Bolsonaro para fugir da sina de sair na liderança e
acabar fora até do segundo turno. O prefeito Bruno Covas (PSDB) precisa driblar
a frustração pelo segundo lugar e evitar perda de votos para Márcio França
(PSB). Jilmar Tatto empurra o PT para o balaio dos nanicos e para o apoio a
Guilherme Boulos (PSOL), a novidade de 2020. No Rio, o prefeito Marcello
Crivella (Republicanos) está inelegível. Conseguirá reverter a decisão no TSE e
manter o apoio de Bolsonaro?
Na economia, Bolsonaro lavou as mãos: Paulo
Guedes que se vire. Se articular apoio para a “nova CPMF”, não vai atrapalhar.
Guedes recupera liderança e força, o governo comemora a troca dos novatos do
PSL pelo trator Centrão e a pergunta que não quer calar é: como desonerar a
folha, como Guedes quer, e encorpar o novo Bolsa Família, como Bolsonaro exige,
sem furar o teto de gastos nem aumentar a carga tributária? A conta fecha?
Enquanto isso, Bolsonaro acompanha com
prazer o rebuliço em torno da indicação para o Supremo, com as decisões do
procurador-geral Augusto Aras sempre sob suspeita por algo que ele jura que não
quer e que não vai acontecer, o juiz do Rio Marcelo Bretas repreendido por
participar de atos políticos e o plenário do STJ em alvoroço, como sempre, diante
de uma vaga na alta Corte.
O ministro “terrivelmente evangélico”,
porém, afunila para Jorge Oliveira, advogado e policial militar sem credenciais
jurídicas compatíveis com o Supremo, mas secretário-geral da Presidência e
filho de grande amigo de Bolsonaro. E para André Mendonça, advogado, pastor
presbiteriano, ex-advogado-geral da União e atual ministro da Justiça.
Transformou a Justiça em órgão de defesa do presidente, mas ainda é bem aceito
no STF.
Celso de Mello deixa a Corte em 13 de
outubro, após 31 anos, à frente da investigação do presidente por intervenção
na PF. Celso, decano que sai, determinou depoimento presencial para Bolsonaro.
Marco Aurélio, o novo decano, jogou para o plenário virtual e defendeu
depoimento por escrito. O lance seguinte pode ser tirar do virtual (votos por
escrito) para o plenário real (ao vivo).
Logo, Bolsonaro vai trocar um ministro
ostensivamente crítico por outro terrivelmente amigo e um decano adversário por
outro nem tanto e, na presidência, entrou Luiz Fux com a expectativa de maior
independência em relação ao Planalto do que Dias Toffoli. O que se sabia de
Supremo não se sabe mais. Exemplo: e a prisão após segunda instância, que caiu
por um único voto?
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