- O Estado de S. Paulo
No Brasil, os polos
políticos capazes de atrair e agregar várias forças partidárias foram
redefinidos em 2018. A “clássica” polarização PT/PSDB — que no país e na cidade
de São Paulo, em particular, deu o tom da disputa por tanto tempo – tende a
desaparecer nas eleições deste ano. Ao que tudo indica, um ciclo se encerrou
dando origem a outro — que, talvez, também já esteja passando por novo processo
de transmutação. A vida e a política seguem, como numa noite veloz.
Na eleição presidencial, a
crise econômica e a Lava Jato fizeram com que o antipetismo – que nasceu junto
com o partido — se expandisse. Com maior afinco e desespero, buscou força capaz
de derrotar a até então forte legenda de Lula. O PSDB deixava, porém, de ser a
aposta: exposto aos próprios escândalos e diluído no Centrão, os tucanos
sucumbiram como alternativa. O vazio, contudo, abriu espaço para a aventura.
Favorecido por esse quadro,
o bolsonarismo tomou corpo. (Era também beneficiado pela onda mundial de
ressentimento e rancor contra a política e a democracia, originada nos
indivíduos abandonados pela revolução tecnológica – os esquecidos, somente
agora percebidos por Paulo Guedes. Como em vários cantos do planeta, aqui
também o populismo se aproveitou das circunstâncias e se estabeleceu.
Nesses dois anos, o
bolsonarismo vem se consolidando para parte da população, mas também se
desgastando com outra. Com efeito, a demagogia populista radicaliza e fideliza
seu público, mas não consegue dar resposta efetiva a problemas concretos. Por
sua vez, o PT vem perdendo o viço, embora Lula mantenha forte lembrança no
eleitorado.
São duas forças ainda
importantes, mas a excitação constante que exigem tende à fadiga, revelando
limites claros, impossíveis de se expandirem para além de suas tropas. Assim,
improdutiva e cansativa, essa polarização pode, nesse período, ter-se
desdobrado em duas outras forças: o antipetismo e o antibolsonarismo.
O petismo e bolsonarismo se
combatem, se anulam e não somam. Já “os antis” criam intersecções, delineando
espaço para “candidatos nem-nem” — que nem Bolsonaro, nem Lula. Havendo visão
de futuro, programa e energia, um campo distinto do Centrão e não entendido
como um centro anódino pode se apresentar como alternativa a polarização
bolso-petista.
Estaria inaugurada uma antipolaridade
agregadora de não petistas e não bolsonaristas? Pode ser. Sendo capaz romper a
fortaleza de um dos polos, chegaria ao segundo turno contra o outro, tendendo a
atrair o “voto útil” de quem ficou de fora. Mais uma vez: demandará propostas e
posicionamento; ser “Centro”, por si só, não define ninguém. Mas, a lógica e as
vantagens do “centro político”, assim como a racionalidade do antigo eleitor
mediano, estariam assim reconstituídas. A história dirá.
*Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.
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