Renovação política se faz com projetos claros, definição de políticas públicas e compreensão dos problemas do Brasil e dos Estados
A tira que ilustra esta coluna, do talentoso quadrinista
brasileiro Pietro Soldi, é a mais perfeita tradução do que a autodenominada “nova política”, que nunca teve nada de novo e em
menos de dois anos se encontra em avançado estado de necrose, legou ao País.
Brasileiros de Norte a Sul elegeram para o Executivo e
o Legislativo vários espécimes de jumentos vendados, achando que
revolucionariam a forma de fazer política. Mas o resultado é que estamos
ensopados de café quente e sem muito sinal de que vamos conseguir reerguer a
mesa que tombou e colar a louça que foi feita em cacos.
Olhemos a situação do Rio de Janeiro e de Santa
Catarina. O primeiro vinha de uma sucessão de larápios que só não roubaram as
pedras do calçadão de Copacabana. O segundo tinha alguns dos melhores
indicadores econômicos do País e saúde fiscal relativamente boa.
Mas os eleitores dos dois Estados acharam por bem
eleger completos desconhecidos, que entraram na política pela porta fácil do
discurso anticorrupção, atrelados ao bolsonarismo e surfando na onda
lavajatista.
Resultado: menos de dois anos depois, Wilson Witzel, cujo nome 90% dos fluminenses não sabiam nem
pronunciar quando nele votaram, e Carlos
Moisés, cuja foto até hoje eu não saberia reconhecer,
estão a caminho do impeachment.
De Bolsonaro não é preciso falar. Já mencionei seu
discurso na ONU, mais uma exibição que não deixou nada a dever à tirinha do
Pietro.
E nos Parlamentos e na vida partidária, qual o saldo da
tal nova política? Não muito superior. Há, sim, excelentes novos parlamentares,
da esquerda à direita.
Os movimentos não partidários, como Agora, Livres,
Renova BR e Acredito, aliás, contribuíram de forma mais significativa para isso
que os partidos, pois enfrentaram a necessidade de formação desses jovens
líderes.
Quanto às siglas, seguem perdidas na geleia geral ideológica e programática, inclusive as novas. Basta ver o episódio Novo versus Filipe Sabará. O candidato passou no tal processo seletivo, mas em seguida seu currículo acadêmico foi desmentido, se descobriu uma diferença de nada menos que R$ 3.985.000 em sua declaração de bens, e o barraco começou. Diante de tantas inconsistências, Sabará recorreu à seguinte explicação: a “ala esquerdista” (!) do Novo, representada por João Amoêdo (!!), o estaria perseguindo. Seria até engraçado, se não fosse patético. Dá-lhe coice com olhos vendados!
A divisão interna do Novo é mais um sinal claro de que
não se mudam as práticas políticas apenas com slogans, sapatênis e ideias naive
– como a de que não usar Fundo Partidário é sinal de virtude por si só.
Renovação política se faz com projetos
claros, definição de políticas públicas e compreensão dos problemas do Brasil e
dos Estados e de que legisladores têm mais a fazer que filminhos ridículos no
TikTok ou Instagram.
Que 2020 comece a corrigir 2018 e que tiremos a venda do jumento e elejamos bons políticos para fazer política. Olha só que ideia disruptiva!
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