A
oposição entre a lei impessoal e obrigações morais particularistas não é
novidade
Você
e seu melhor amigo estão no carro. Ele dirige. De repente, ele atropela um
pedestre. Estava a uma velocidade acima da permitida. Não há câmeras nem
testemunhas, além de você. O advogado de seu amigo diz que, se você
testemunhar, assegurando que ele trafegava abaixo do limite de velocidade, vai
poupá-lo de sérios problemas.
O
que você pensa disso:
a)
Que seu amigo tem todo o direito de esperar que você testemunhe em seu favor, e
você deve mesmo honrar os deveres da amizade.
b)
Que seu amigo deveria ter pouca ou nenhuma expectativa de que você testemunhe,
e você não deve mentir em juízo.
Como
ensina Joseph
Henrich, esse é um dos testes usados para diferenciar países “weird”
(acrônimo em inglês para ocidental, educado, industrializado, rico e
democrático) dos demais.
Em nações como EUA, Canadá e Suíça, mais de 90% dos empresários e gerentes submetidos ao teste responderam “b”; já em países como Nepal, Venezuela e Coreia do Sul, a maioria optou por “a”. O Brasil fica no meio do caminho.
Embora
seja tentador ver a resposta “a” como antiética, parece mais acertado afirmar
que ela se pauta por uma ética diferente.
Populações
“weird” tendem a valorizar abordagens universalistas, nas quais a aplicação das
regras deve ocorrer de forma abstrata e impessoal. Já as não “weird” costumam
ser mais particularistas, isto é, dão mais peso à ideia de que o tipo de
relacionamento que você tem com uma pessoa é que determina seus deveres em
relação a ela. Mesmo o mundo “weird” não abandona totalmente esse princípio:
você tem o dever de manter e educar os seus filhos, não os filhos dos outros.
Embora tenhamos assistido, nos últimos séculos, à ascensão do Ocidente e sua ideologia “weird”, a oposição entre a lei impessoal e obrigações morais particularistas não é novidade. Os gregos a compreenderam bem e a transformaram na matéria-prima das tragédias.
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