Há
um esboço de novidades saudáveis, esse gênero que passou de escasso a extinto
Na
passagem do mal vivido para o vamos ver, o Brasil recomenda aos seus filhos
muito bom senso ao desejar feliz
Ano-Novo. Seja qual for sua sinceridade, convém que esses votos
sejam certeiros na destinação. Não só para evitar desperdício. Os votos
tradicionais, extensivos e indiscriminados, estão perigosos. Podem
ser até suicidas.
Não,
nada a ver com a Covid-19. Mais um ano
feliz para os 37% que aprovam o governo resultaria da permanência
de toda a alucinação e
destrutividade, desprezo pela vida das pessoas e pelo futuro do
país, predominantes nestes dois anos. Seria a continuidade de um ano que 63%
dos brasileiros sentiram entre reprovável e sufocante. Sim, resgatar o Brasil e
retomar o passo da democracia depende de que os felizes com os dois anos
passados sejam os infelizes do próximo ano. E o sejam tanto e tão cedo quanto
possível.
Nesse
sentido, há um esboço de novidades saudáveis, esse gênero que passou de escasso
a extinto. Uma delas é a incipiente aliança de
MDB, DEM, PDT, Cidadania e PT com o objetivo de fazer o futuro
presidente da Câmara.
Um feito devido, sobretudo, à hábil confiança conquistada por Rodrigo Maia e a uma reconsideração experimental do PT em vista das circunstâncias.
Há
reações no petismo. O candidato próprio é uma ideia com longo predomínio no
partido. No caso atual, como em tantas ocasiões, candidato à derrota, apenas
para marcar posição e mobilizar em torno da militância. Nessa altura, não
chegaria a uma coisa nem outra. Agora se trata de defender a democracia, por
mais exígua que viesse sendo.
A
novidade não pretende ser uma frente, com projeto comum mais longo. É uma
aliança tática, portanto efêmera, para finalidade delimitada —o que a faz
viável.
Outra
novidade induzida pelas circunstâncias é a decisão de quatro ministros do
Supremo de trabalhar durante suas férias de verão. A atitude de Lewandowski,
Marco Aurélio, Moraes e Gilmar está interpretada, sem confirmação, à defesa da
criação de juízes das garantias. Sozinho, Fux ficaria com a palavra decisiva
sobre essa inovação importante, contra a qual já se manifestou.
Se
isso moveu os quatro, não foi só isso. Cármen Lúcia não abandonará o processo
que questiona a política
antiambiental. E os processos criminais que assustam os Bolsonaros
seguem, no STF, sem manobras salvadoras.
É
pouco, por certo, diante das circunstâncias. Mas, em um país que passou dois
anos sem ver nem sequer uma instituição, ou seus integrantes, mover-se contra o
assalto à Constituição, à democracia e aos bens e interesses maiores do país,
chega a parecer verdadeira a tão repetida sentença: “As instituições estão
funcionando”.
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