Henry Parker (1604-1652). Observações
sobre algumas das respostas e expressões recentes de Sua Majestade, 1842.
As revoluções burguesas foram marcadas por
muita violência, como a polarização anglo-saxã entre “Cabeças redondas” e
“Cabeças pontudas” nos fez relembrar um contexto de Guerra Civil onde muitos se
viram impulsionados por doutrinas e debates sobre a liberdade da fé. O século
XVII, na Inglaterra, nos faz compreender muito do contexto em que Hobbes
destacou que “um dos deveres básicos do Estado é impedir que você invada os
direitos de ação de seus concidadãos, um dever que ele cumpre pela imposição da
força coercitiva da lei sobre todos igualmente.” (SKINNER, p. 18).
Abre-se assim uma hipótese de que a “Nápoles
carioca” dos segmentos cada vez mais à margem dos compromissos com as relações
sociais de produção diante de uma “multidão” de trabalhadores circunscritos à
informalização da vida econômica e social se encontra com aquela Londres do
século da Revolução Gloriosa onde as classes subalternas estariam à procura de
um Lorde Protetor como Oliver Cromwell (1599 – 1658), que encerrou a vida
decapitado. A “nova” Revolução Puritana que se expande na periferia carioca
ainda não recebeu uma atenção não preconceituosa de muitos acadêmicos.
Nossos caminhos restauradores, com suas doses
barrocas, se manifestam nas recentes pesquisas da ATLAS e DATAFOLHA sobre a
chamada Megaoperação nos Complexos do Alemão e da Penha, em outubro de 2025.
Não nos deixemos turvar nossas reflexões pelos atalhos de uma teoria política
que bloqueia um diálogo sobre a liberdade e a democracia com segmentos
conservadores. Seria por essa perspectiva que a leitura do livro Elite da
Tropa (2006) seria de grande contribuição para além de ficar circunscrito
numa postura do “ativismo do discurso”, pois necessitamos de lideranças
formadas e capacitadas para compreender a natureza do transformismo que está
ocorrendo na criminalidade brasileira (sobretudo a carioca), como demonstra a
série “Os Donos do Jogo”, na Netflix.
Os cariocas celebraram a vitória de “Ainda
estou Aqui” ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – que condena a brutalidade e
a tortura –, porém, no seu cotidiano, as forças democráticas do Renascimento
deixam cair a máscara de um mundo moldado no “Leviatã”. Elite da
Tropa não impactou tanto quanto o filme “Tropa de Elite” (2007) onde os
éticos personagens Matias e Neto foram eclipsados pelo Capitão Nascimento que
seria uma espécie de um porta-voz da antipolítica. Não confiar na instituição
Polícia Militar é o ponto de partida para se justificar os exageros do Capitão
no mundo ficcional. Livro e filme surgiram nos tempos do questionamento ético
do “Mensalão”. Tínhamos então as evidências de uma sociedade fraturada e
inorgânica que foi cada vez mais empurrada para a hegemonia das forças
retrógradas.
“Atirar na cabeça” foi uma senha da sociedade
nas eleições fluminenses em 2018. Não podemos nos deixar iludir que os fatores
e condicionantes desse quadro se modificaram favoravelmente por conta das
vitórias liberais na Capital, Niterói e algumas cidades. Os níveis de
desqualificação das instituições democráticas na sociedade seriam enormes até
entre segmentos do campo da esquerda. Um mosaico de “narrativas” colocaram a
defesa do Amor de uma tentativa de Frente Democrática nas eleições
presidenciais de 2022 num plano secundário. Outra vez o “mundo do consumo” foi
o foco deixando de lado a relevância do “mundo dos direitos”.
As origens do cristianismo na ocupação militar da Judeia pelo Império Romano se expressa numa interpretação do livro Atos dos Apóstolos. Conhecer a história do cristianismo como um pensamento de perdão é muito importante nesse momento em que alguns que deviam celebrar a vida estão aplaudindo a morte. Sabemos que tempos de fé se constroem no exercício de um testemunho. Portanto, dois parlamentares negros e evangélicos de matrizes políticas distintas convergiram na crítica aos eventos da Megaoperação. A Deputada Federal Benedita da Silva em sua fala para as mães e as lágrimas (debochadas por alguns em um insano ato de desumana falta de educação) soma-se ao Deputado Federal e Pastor Otoni de Paula que não se deixou seduzir pelo “atalho” do oportunismo sobre o tema e clama por uma melhor abordagem sobre o tema da violência. Portanto, ampliar a Frente Democrática de 2022 é uma necessidade que nos obriga a levar a “ética da responsabilidade” a sério na prática da política.
Referência bibliográfica:
SKINNER, Quentin. Liberdade antes do
liberalismo. São Paulo: UNESP, 1999.
*Vagner Gomes é Doutorando em Ciência Política no PPGCP-UNIRIO.

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