Entre o carnaval e a Páscoa, os candidatos a 2014 se apresentaram como tal. Agora, passaremos o ano assistindo aos alinhamentos partidários, que vão gerar escaramuças e constrangimentos
Entre o carnaval e a Páscoa que estamos atravessando, a elite política que nos dirige pisou forte no acelerador do tempo. Não foi apenas a presidente da República. Se não quisessem, os outros partidos e postulantes à Presidência teriam mantido suas rotinas e agendas. Instalando prematuramente a disputa eleitoral de 2014, queimaram o ano em curso, naquilo que seria dirigido a equacionar problemas e pactuar soluções. Com isso, todos os gestos e palavras, de todos eles, passaram a ter coloração eleitoral. Naturalmente, os que vêm da presidente Dilma, agora que ela é candidata, terão sempre maior repercussão sobre a vida do país e das pessoas.
Se Dilma não fosse candidata, não teria eriçado os mercados e excitado os analistas econômicos ao dizer que o combate à inflação não pode sacrificar o crescimento. Ela já disse isso outras vezes, em outros momentos, sem provocar cataclismas. O anúncio da previsão de inflação de 5,3% para este ano, pelo Banco Central, fez o resto. O novo índice é maior que o previsto inicialmente, mas não ultrapassou o teto da banda de variação da meta de 4.5% anuais, que é de 6,5%. Mas Dilma é candidata, e quando as duas coisas acontecem — a fala em Durban e a divulgação do índice — instala-se o temor (falso ou verdadeiro) de que, daqui para a frente, ela possa “fazer o diabo” também na economia para se reeleger, afrouxando com o controle da inflação.
Os outros postulantes também, com menores consequências, pagarão faturas pela antecipação de seus movimentos eleitorais. O governador Eduardo Campos pode ter razão em suas críticas à MP dos Portos, mas tudo o que ele já disse e dirá será atribuído à necessidade de diferenciar-se do Governo. Aécio Neves não precisaria estar jogando paciência com Geraldo Alckmin e José Serra. Marina, sim, não querendo ser candidata por algum dos partidos já existentes, que para ela são todos farinha do mesmo saco, precisava mesmo começar a montar sua alternativa partidária.
Dezenas de bons números econômicos foram cuspidos por órgãos oficiais nas últimas horas, mas foram todos ofuscados pelo caso da inflação.
Entre o Carnaval e a Páscoa, eles se apresentaram como candidatos. Agora, passaremos o resto do ano assistindo aos alinhamentos partidários, que vão gerar escaramuças e constrangimentos. E em tudo será colada a etiqueta “eleitoral”, mesmo quando as motivações forem outras.
Linha de giz
Enquanto os senadores Luis Henrique (PMDB) e Jorge Viana (PT) discutem a necessidade de unir os governistas do PT, PMDB e PSD em Santa Catarina, já vai longe o virtual candidato Eduardo Campos. Ele teve um encontro com o governador Raimundo Colombo (PSD), que por sua vez lhe falou do entusiasmo do ex-senador Jorge Bornhausen com sua candidatura. O PSB de Campos é fraco, quase inexistente no Estado, o que confere elevada importância a este possível desembarque. Mas, no entorno do candidato, acende-se uma luz vermelha: recusar apoios ele não pode, mas se ultrapassar uma certa linha em suas composições poderá romper com o campo de sua história política, marcada por um ícone da esquerda, seu avô Miguel Arraes.
Pega, mata, esfola
Na última quarta-feira, 25, o programa CQC, da TV Bandeirantes, exibiu algo bastante indicador do ovo de serpente que estamos chocando, em nome do combate à corrupção. O deputado José Genoino foi submetido a uma tentativa de “entrevista” em que o “repórter” o chibateou com injúrias, insultos, escárnios. Ainda que o julgamento do mensalão já tivesse transitado em julgado, e Genoíno já estivesse definitivamente condenado e preso, em qualquer democracia aquela abordagem violenta seria condenada pelos órgãos de defesa dos direitos humanos e de observância dos meios de comunicação, como o que agora existe na Inglaterra. Não para censurar, mas garantir o equilíbrio entre a liberdade de imprensa os outros direitos. Para completar, o profissional da emissora, uma concessão pública, valeu-se depois de uma criança para intimidar o deputado com perguntas. Genoino tratou o menino com o respeito e a compaixão que se deve ter para os inocentes que não sabem o que fazem. Hoje é um bom dia para se recordar esta frase. Naquela edição do CQC, faltou humor, sobrou obscurantismo, feriu-se o jornalismo.
Rangel na Ancine
Atendendo à ministra da Cultura, Marta Suplicy, a presidente Dilma deve reconduzir Manoel Rangel, do PCdoB, à presidência da Ancine para o exercício de um terceiro mandato, algo que nunca aconteceu em outras agências reguladoras. Sua gestão em oito anos tem dois marcos positivos importantes: a criação do FSA — Fundo Setorial do Audiovisual, destinado a fomentar e integrar toda a cadeia produtiva da atividade audiovisual (cinema, TV, videos etc.) e a aprovação da Lei 12.485/2011, a chamada lei da TV Paga, que determina a inclusão de uma cota de conteúdos nacionais nos pacotes oferecidos. Ele teve o apoio de produtores e diretores importantes, como Cacá Diegues e Walter Salles, e a oposição de outros, como Silvio Tendler, afora um abaixo assinado dos funcionários pela renovação. O novo mandato dependerá da aprovação de seu nome pelo Senado. Um desafio para o senador Inácio Arruda, do PCdoB, na Comissão de Educação e Cultura, onde ases da oposição, como Randolfe Rodrigues (PSOL), Pedro Taques (PDT) e Cristovam Buarque (PDT) vêm no terceiro mandato um continuísmo abusivo, seja para presidente da República ou de autarquia.
Fonte: Correio Braziliense
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