Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo
Articulador de algumas das posições mais radicais contra a política econômica do governo Dilma Rousseff apresentadas durante o 5.º Congresso do PT, o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, disse ao Estado que a ala sindical do partido, espinha dorsal da legenda, não apoiará o ajuste fiscal levado a cabo pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apesar dos apelos de Dilma.
"Os trabalhadores não podem dar apoio a uma política econômica em que eles não têm aumento de salário", afirmou.
Na quinta-feira passada, a presidente participou do evento do partido, encerrado no sábado, em Salvador, no qual pediu amparo do PT ao governo. Durante o discurso de Dilma, integrantes da central mostraram uma faixa que dizia "Fora plano Levy", o que fez a presidente engasgar.
O presidente da CUT condicionou o apoio ao governo a duas medidas: vetar o projeto de lei que amplia a terceirização e sancionar a alternativa ao fator previdenciário chamada de fórmula 85/95. "A presidenta precisa fazer duas coisas importantes para ter o apoio que ela solicitou da área petista do movimento sindical. Vetar o PL 4330 (projeto de lei da terceirização) e sancionar o 85/95. Com estas duas medidas ela vai ter nosso apoio irrestrito", garantiu.
Segundo ele, o PT também não pode endossar a política econômica do governo, sob risco de perder o que resta de sua base política original, mesmo que os sindicalistas petistas tentem impor às suas bases o apoio a Dilma. "O efeito político para o PT desta orientação econômica é a diminuição do seu apoio e base social", disse Freitas.
"O que o PT tem de mais importante é o apoio popular. Quando você tem uma política econômica que vai em desencontro do que pensa a maioria dos sindicatos, vai perdendo sua base de sustentação social. Aí, não adianta o dirigente sindical petista querer se impor porque o trabalhador passa por cima disso", afirmou o dirigente.
Manifesto. Durante o congresso partidário, Freitas, da mesma corrente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a moderada Construindo um Novo Brasil (CNB), cumpriu o papel que sempre coube aos chamados radicais petistas, ao apresentar manifesto intitulado "PT de volta para a classe trabalhadora". Embora não seja um documento oficial da CUT, ele é assinado pelos 31 integrantes da cúpula da central.
O manifesto classifica as medidas propostas no ajuste fiscal de "ataques diretos aos trabalhadores", acusa o governo Dilma Rousseff de tentar implantar uma "agenda neoliberal" e de colocar o PT "contra a classe trabalhadora".
Ao fim dos três dias de congresso, o PT desistiu de fazer críticas mais fortes ao ajuste fiscal após pressão do governo. Em um aceno à base sindical, resolução diz apenas ser preciso retomar o crescimento e defender o emprego e os direitos dos trabalhadores.
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