Por Simon Nixon | Dow Jones Newswires | Valor Econômico
Três meses atrás poucos acreditavam que Emmanuel Macron tinha chance de conquistar a Presidência da França. Agora, ele é o favorito. Pesquisas mostram o ex-ministro da Economia, que se posiciona como um candidato abertamente independente e pró-europeu, empatado com Marine Le Pen no primeiro turno das eleições, em 27 de abril, e derrotando a líder da Frente Nacional por 20 pontos percentuais no segundo turno, em 7 de maio.
Apesar de erros recentes em pesquisas, nenhuma pesquisa mostrou o Brexit ou Donald Trump perdendo tão feio quanto Marine Le Pen, que quer tirar a França da zona do euro. Na verdade, nas eleições recentes na Áustria e na Holanda, o eleitorado se afastou da extrema direita, favorecendo candidatos centristas e pró-europeus.
A maior ameaça a Macron poderá agora vir da extrema-esquerda. Pesquisas sugerem um aumento recente no apoio a Jean-Luc Melenchon, ex-ministro do Partido Socialista que propõe um imposto de 100% sobre as rendas 20 vezes acima da média nacional, uma semana de trabalho de 32 horas e a saída da França da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental). Contra Melenchon, Marine Le Pen teria a sua a melhor chance de vitória no segundo turno. Mas como ele tem 17% das intenções de voto no primeiro turno - pelo menos seis pontos abaixo do apoio a Macron e a Marine Le Pen - esse continua sendo um cenário improvável. O Barenberg Bank coloca essa probabilidade em apenas 10%.
Macron está contribuindo, e se beneficiando, da extraordinária reviravolta da Europa desde o início do ano. Os riscos econômicos e políticos que assombraram o continente em 2016 parecem ter diminuído num grau que, em janeiro, poucos acreditavam ser possível.
Certamente o crescimento da Europa está mais vigoroso e mais igualmente espalhado pelos países e setores do que o que se previa em janeiro. O crescimento está no patamar mais alto em seis anos, enquanto que o desemprego se acha no menor nível em nove anos, graças à forte demanda doméstica, que está sendo ajudada pelo aumento dos salários e a maior facilidade de crédito, incluindo em países que estavam antes em crise, como a Espanha e a Irlanda.
O temor de que o Banco Central Europeu (BCE) tivesse ficado sem munição para combater a inflação perdeu força em poucas semanas, abrindo caminho para um debate acalorado sobre quando e como o BCE deverá começar a apertar a sua política monetária.
Os riscos políticos também estão recuando, com a crise dos refugiados pesando menos na opinião pública, e as crescentes inquietações geopolíticas pesando mais, especialmente desde a eleição de Donald Trump nos EUA
Após o fracasso dos partidos da extrema-direita de chegar à Presidência da Áustria, em dezembro, e de obter os avanços esperados nas eleições parlamentares da Holanda, no mês passado, o partido alemão AfD viu o apoio do eleitorado cair ao nível mais baixo desde a crise dos refugiados em 2015.
A premiê alemã, Angela Merkel, agora se depara com seu maior desafio em 12 anos, vindo do ressurgimento do Partido Social Democrata, liderado por Martin Schulz, pró-europeu e ex-presidente do Parlamento Europeu.
Até mesmo no Reino Unido a grande revolta com o Brexit parece ter atingido seu pico. A primeira-ministra Theresa May usou os dez dias desde que invocou o Artigo 50 (o início oficial das negociações de saída do país da UE) para sinalizar compromissos que poderão abrir as portas para o que ela chama de "uma parceria estreita e especial" com a União Europeia. A portas fechadas, alguns ministros afirmam que o acerto vai na prática corresponder à situação de membro associado ao bloco.
Uma vitória de Macron representaria mais uma injeção de confiança no establishment europeu. Mesmo assim, qualquer efeito positivo poderá ter vida curta se ele não usar seu mandato para promover rápidas mudanças nos mercados de trabalho e de comércio da França, que eludiram vários presidentes e que, segundo economistas, são vitais para reforçar o potencial de crescimento de longo prazo do país. Muita coisa dependerá do resultado das eleições parlamentares de junho, em que o incipiente movimento político de Macron terá dificuldades para conquistar uma maioria, forçando-o a trabalhar com a oposição.
Ainda assim, não haverá muitas dificuldades para Macron: se a França conseguir repetir o aumento das taxas de geração de emprego que países como Alemanha, Reino Unido e Suécia conseguiram por meio de reformas em seus sistemas de bem-estar social, poderá elevar seu crescimento potencial de 0,8% para 1,3%, afirma Gillers Moec do Bank of America Merrill Lynch. Igualar os níveis de emprego da Alemanha para aqueles com mais de 65 anos é algo que poderá elevar o crescimento em potencial para 2%, um dos níveis mais altos entre os países desenvolvidos.
Não é apenas o destino da França que depende do eventual sucesso de Macron. Somente um governo francês com capacidade comprovada para empreender reformas internas poderá convencer a Alemanha a apoiar as reformar no âmbito europeu, necessárias para aumentar a resistência da zona do euro para o momento em que a região enfrentará seu desafio político mais sério: as eleições do ano que vem na Itália.
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