- O Globo
Temer responde a crítica e diz que retrógrado é quem não quer reformas. O presidente Michel Temer enviou carta para fazer o que chamou de “reparo essencial” à coluna em que o critiquei pela sua declaração sobre o governo precisar de “ter marido” para não quebrar. No texto ele disse que pensamento retrógrado têm aqueles que não querem a reforma da Previdência, aqueles que não querem a modernização da legislação trabalhista”. Temer explicou o contexto em que disse a frase.
A explicação do presidente é a de que foi o apresentador Ratinho quem fez a analogia. “Foi o entrevistador que comparou a reforma do teto dos gastos a uma casa em que o marido perde o emprego e a mulher, também desempregada, precisa ajudar o marido na economia doméstica. Não eu. Apenas concordei com a comparação de que o Estado poderia ser visto, nesta metáfora, como o marido. O Estado precisaria gastar menos, já que arrecada menos — assim como a família que perde renda. Precisamos de austeridade, rigor fiscal e compromisso”.
Temer continuou falando da batalha pelas reformas no Congresso. “Pensamento retrógrado têm aqueles que não querem a reforma da Previdência, aqueles que não querem a modernização da legislação trabalhista, aqueles que querem gastar mais do que arrecadam e comprometem o futuro dos filhos, o futuro do país. Comportamento retrógrado tem aqueles que nada fazem para mudar a realidade em que vivem”.
A carta foi motivada pela crítica publicada na coluna de ontem em que chamei de “jurássica” a sua declaração. Como o presidente disse, ele respondeu à metáfora feita pelo entrevistador, mas não é a primeira vez que Temer escorrega nas palavras quando faz declarações sobre mulheres. Aqui neste espaço critiquei o discurso feito no Dia Internacional da Mulher e que tanto desagradou àquelas que ele tentou homenagear.
Na correspondência, ele disse: “Fiz, faço e farei muito para mudar a realidade das mulheres. Não sou dado só a palavras. Criei a primeira delegacia da mulher no mundo quando secretário de Segurança Pública de São Paulo. Criei a primeira procuradoria parlamentar da mulher na Câmara dos Deputados para abrir mais espaço de poder para as mulheres no Parlamento. Designei uma deputada como integrante permanente no colégio de líderes da Câmara, quando nem sempre os partidos indicavam representantes mulheres. Estamos aprovando no Congresso uma legislação trabalhista que cria punições para empresas que pagam menos a mulheres que fazem as mesmas atividades e exercem as mesmas funções de homens. Terei imenso orgulho em sacionar essa legislação”.
Temer disse que fez todas essas observações, em nome do “contraditório democrático que a imprensa brasileira tem como marca”, e acrescentou: “e que você, muito especialmente, tanto lutou para ver como prática usual do cotidiano de nossa mídia”.
A atitude de explicar-se é saudável. Diferente da atitude de governos recentes que preferiam financiar ofensas contra jornalistas. Mas as analogias que o presidente tem feito sobre mulheres não têm agradado. E isso não é divergência com apenas uma jornalista. Ele deve refletir que, para além dos atos positivos que praticou como pessoa pública, precisa ter extremo cuidado no uso das palavras, para que elas não confirmem preconceitos e clichês. Seu governo, quando foi instalado há um ano, não tinha uma única ministra e isso chocou. Foi, para dizer o mínimo, um erro estratégico.
Concordo que não querer mudar quando o mundo mudou, é ser retrógrado. A reforma da Previdência é necessária por razões objetivas. Preparar o mercado do trabalho para o futuro, também. A proposta de reforma trabalhista não chega a ser progressista, ela apenas atualiza determinados pontos e formas de trabalhar. Todo o cuidado o governo deve ter, contudo, com a proposta de fazer uma nova lei trabalhista rural. Certas ideias defendidas pelo deputado tucano e líder ruralista, Nilson Leitão, são de um arcaísmo assustador. Ele quer, entre outras velharias, que trabalhador receba moradia e alimentação como parte do salário, e deseja revogar normas de segurança e saúde no campo. Essas ideias devem ter sido inspiradas naquela forma de trabalho que foi abolida no século XIX. Tomara que a proposta seja apenas do deputado e não do governo.
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