- Valor Econômico
Se deixar o cargo, ministro vai disputar com Temer
Pesquisas qualitativas que ficam prontas esta semana devem definir se Henrique Meirelles fica no governo ou se deixa o cargo até 7 de abril, a fim de disputar a Presidência da República. Meirelles quer ser candidato, mas procura dar a maior racionalidade possível a sua escolha. As pesquisas dirão como vai sua relação com os eleitores. Em outra frente, nos bastidores palacianos e dos partidos, tenta obter garantias de que seu nome estará efetivamente na urna eletrônica, em 7 de outubro, e que contará com estrutura, os recursos necessários e com tempo de rádio e televisão suficientes do partido ao qual se filiar, para ser um candidato realmente competitivo.
Meirelles quer deixar o cargo para se candidatar, mas pelo menos uma fonte muito próxima do ministro assegura que aumentaram as possibilidade dele ficar no ministério. Mas a expectativa em alta no governo e no Congresso é que Meirelles efetivamente deixe a Fazenda para tentar o Planalto. A dúvida seria apenas sobre a escolha partidária do ministro. A solução ideal em termos de recursos e tempo de TV seria o MDB. Nesta hipótese, Meirelles deixaria o governo mas somente em meados de 2018 teria uma definição do partido sobre sua indicação.
Meirelles não quer ficar aguardando tanto tempo. Se for candidato, quer sair o quanto antes à caça do que realmente lhe faz falta: voto. Por essa razão acelerou, nos últimos dias, as conversas com médias e pequenas legendas dispostas a abrigar sua candidatura, como o PRB. Uma aliança de pequenas e médias legendas poderia lhe garantir alguma condição de disputa.
Nas últimas semanas, o ministro só pensa e fala em política. Meirelles promete uma decisão até a Páscoa, mas provavelmente voltará da reunião do G-20, que se realiza em Buenos Aires, com uma solução já encaminhada. No sábado, antes de viajar, ele esteve mais uma vez com o presidente Michel Temer trocando ideias sobre a candidatura.
Temer está mais do que informado de que Meirelles quer ser candidato. Ambos já falaram sobre o assunto por mais de uma vez. Temer já disse a Meirelles que para ser presidente é preciso vontade. Determinação. No sábado, além dos assuntos do G-20 - o que levou Meirelles a Buenos Aires -, conversaram sobre o futuro imediato do ministro.
O MDB está de portas abertas para o ministro da Fazenda. Entende até que esse é o caminho natural para Henrique Meirelles, pois o PSD já o avisou que está alinhado à candidatura Geraldo Alckmin, do PSDB, e ele não iria entrar num "partideco". O fato é que, sem descartar o MDB, Meirelles retomou as conversas com outros partidos da base aliada.
Na realidade, se Meirelles se filiar ao MDB ficará com sua candidatura interditada até o momento que Temer desistir de ser candidato, se isso vier a acontecer, no fim de julho, início de agosto - o prazo para os partidos realizarem convenções para a escolha de candidatos vai de 20 de julho a 5 de agosto. Aí faltariam apenas dois meses para a eleição, tempo improvável para articulação de uma campanha.
E Temer é candidatíssimo à reeleição, conforme antecipou o Valor na sua edição da Quarta-Feira de Cinzas. Atualmente, a popularidade do presidente anda pela casa dos 6%, nada mal para quem já esteve com 1%. O cálculo dos aliados do presidente é que ele chega a agosto com alguma coisa entre 15% e 20%, percentual bastante razoável para levar um candidato para o segundo turno, se houver muitos candidatos na disputa, como esperado. A intervenção na segurança do Rio é um risco político, mas se for um sucesso, Temer capitaliza.
É um cálculo otimista, mas Temer acha que tem o que mostrar à população, o chamado "legado", e quer aproveitar a campanha para se defender das denúncias que sofreu ao longo de seu breve mandato, como aquela de que teria tentado comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. O presidente acha que ninguém mais que ele próprio pode fazer melhor a defesa da sua moral.
Em resumo, para desistir de uma candidatura, Temer precisaria estar muito mal nas pesquisas eleitorais, algo como 1% das intenções de voto. Não são pouco os líderes que apostam na hipótese da inviabilidade total do projeto temerista e avaliam que ele só alimenta a hipótese da reeleição para ser importante no jogo sucessório. Para Meirelles, o importante é se Temer, saindo, lhe assegura o tempo de TV, os recursos e a estrutura do MDB.
O ministro da Fazenda não precisaria de mais que isso - na campanha, os caciques regionais estarão divididos, seja com Temer, Meirelles ou qualquer outro indicado. Sobretudo se Lula da Silva for candidato, o que é improvável, pois deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, ou se conseguir alavancar um nome alternativo do PT.
Não existe propriamente um pacto entre Temer e Meirelles pelo qual será o candidato do MDB aquele que estiver melhores nas pesquisas de opinião. Mas é evidente que se o ministro da Fazenda estiver, digamos, com 49% das intenções de voto, ele não precisará correr atrás do MDB. O partido vai atrás dele. Até com bem menos que isso - 49% é para escandalizar a ideia.
Nos cálculos de Meirelles, provavelmente está a hipótese de que o chamado centro político vai com quatro pré-candidatos até meados de julho: Geraldo Alckmin, pelo PSDB, Rodrigo Maia, pelo Democratas (DEM), ele próprio pelo MDB ou outra sigla, e Michel Temer. Por volta de julho um ou dois desistem. O ministro da Fazenda certamente vê espaço para três candidatos do centro - Maia sairia para se fixar na disputa pela Câmara dos Deputados.
Meirelles deve tomar sua decisão esta semana, até porque deve receber o resultado das pesquisas qualitativas que mandou fazer. Há mais ou menos 17 anos seu nome foi testado numa pesquisa semelhante, realizada em São Paulo, junto com os nomes do senador José Serra (PSDB) e do atual vereador Eduardo Suplicy (PT). E ele se deu muito bem.
Meirelles, se deixar o governo, é para ser candidato a presidente. Até contra Temer.
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