Por Vandson Lima e Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - Único partido com potencial para fazer frente ao clã dos Calheiros em Alagoas, o PSDB praticamente abdicou da disputa local este ano. No intervalo de um mês, o ex-governador Teotonio Vilela Filho e o atual prefeito de Maceió, Rui Palmeira, ambos tucanos, anunciaram a desistência de suas possíveis candidaturas ao Senado e ao governo do Estado, respectivamente.
Com isso, o caminho ficou aberto para a reeleição de Renan Filho no governo e do pai, Renan Calheiros, no Senado. Partidos antes aglutinados em torno de uma possível aliança oposicionista, PP, PR e o PSDB apontam agora para rumos diversos, sem a perspectiva de nomes que liderem uma chapa forte.
Além da questão estadual, a desistência de Teotonio e Rui abre um buraco no palanque do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) em Alagoas. É uma situação diversa da vivida pelos tucanos em 2016, quando as vitórias em Maceió e Arapiraca - os dois maiores colégios eleitorais - pareciam prenunciar que a sigla chegaria com força para disputar cargos majoritários em 2018.
Teotonio foi o primeiro a renunciar ao embate eleitoral. Além da oposição da família a seu retorno à política, as denúncias como suspeito de receber propina nas obras do Canal do Sertão, alvo da Operação Caribdis, da Polícia Federal (PF), em novembro do ano passado, tiraram-lhe o ímpeto.
No caso do prefeito Rui Palmeira, que divulgou a decisão em vídeo nas redes sociais há uma semana, ele afirmou que há "muitos projetos importantes em andamento em Maceió e não me sentiria confortável em deixar a prefeitura no meio". Segundo aliados, também pesaram decisivamente os índices pouco animadores obtidos em pesquisas recentes, o momento complicado vivido pela administração municipal e a dificuldade em disputar com o atual governador, que terá a máquina estadual a seu favor em um ano de recurso escasso para fazer campanha.
A esperança do partido, neste momento, resume-se ao deputado estadual Rodrigo Cunha. Filho da ex-deputada Ceci Cunha, Rodrigo teve seus pais e mais dois familiares assassinados em 1998, após a diplomação do segundo mandato de Ceci como deputada federal. O episódio ficou conhecido como a "Chacina da Gruta". Carismático e com atuação destacada na assembleia legislativa, Rodrigo tem uma eleição considerada certa caso concorra à Câmara Federal. A disputa ao governo ou ao Senado, contudo, teria riscos.
No plano estadual, o governo de Renan Filho colhe bons índices de avaliação. De acordo com sondagem feita pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa (Ibrape) em fins de fevereiro, somam 65% os que aprovam o atual governo e 29% os que desaprovam.
A mesma pesquisa mostrou que, ainda com Rui Palmeira no páreo, Renan Filho alcança 40% das intenções de voto, contra 13% de Rui. Depois deles, aparece o deputado federal João Henrique Caldas (PSB), com apenas 6%.
A cena política em Alagoas é comparada ao que ocorre na Bahia, onde o prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, é pressionado para deixar o mandato e se candidatar ao governo do Estado para garantir um palanque para a oposição. Nos dois Estados, mais da metade dos eleitores apoiam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tendem a votar em quem estiver ao lado dele - o que ocorre com os Calheiros em Alagoas.
Ainda no primeiro semestre do ano passado, o senador Renan Calheiros iniciou um movimento de afastamento do governo do presidente Michel Temer e aproximação do ex-presidente Lula. Àquela altura alvo preferencial das ações da PF no âmbito da operação Lava-Jato, Renan viu sua reeleição muito ameaçada ao bater nos 13% de intenção de voto no auge das denúncias.
A aproximação com Lula, selada ao aparecer de braços dados com o petista durante a passagem de sua caravana por Alagoas, em agosto, foi cirúrgica: ocorrida em um momento de grande dificuldade do governo Temer por conta das denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR), e, ao mesmo tempo, anterior à condenação de Lula à prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, a estratégia retornou Calheiros ao patamar de popularidade pré-Lava-Jato. Hoje, ele aparece em primeiro lugar nas sondagens para as duas vagas ao Senado, com 34%.
Com a derrocada do palanque encabeçado pelos tucanos, dois ministros de Temer que ansiavam bater chapa com Renan agora negociam aliança com os Calheiros pela segunda vaga ao Senado. Ministro do Turismo, Marx Beltrão (MDB), que meses atrás articulava a ida ao PSD para enfrentar o antigo padrinho político, posou orgulhoso para as fotos ao lado de Renan pai e filho na assinatura da ordem de serviço para obras no município de Pilar, sexta-feira.
Já Maurício Quintella Lessa, do PR e à frente da Pasta dos Transportes, vinha desde o ano passado buscando aproximar-se do governador. Agora, interlocutores dão como certo o anúncio da candidatura e aliança com os emedebistas até o fim deste mês.
Oposição franca aos Calheiros, por ora, apenas a do PP do senador Benedito de Lira. Eleito em 2010 e derrotado por Renan Filho na disputa ao governo do Estado em 2014, ele concorrerá à reeleição. Procurador-geral de Justiça de Alagoas e popular entre a classe média do Estado, Alfredo Gaspar de Mendonça avalia concorrer ao governo ou Senado pelo PSB.
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