PSDB escolhe Doria para a disputa do sétimo mandato consecutivo da sigla em São Paulo
O neófito João Doria foi o efeito mais vistoso do sentimento antipetista que se alastrava em 2016 pelo país —depois, claro, do impeachment de Dilma Rousseff.
De início pré-candidato improvável à prefeitura paulistana, obteve 44% dos votos na primeira rodada das prévias do PSDB. Acabou por vencer a disputa municipal, de forma inédita, sem a necessidade de um segundo turno.
Doria agora conquista, com avassaladores 80% das preferências da seção local do partido, o posto de candidato ao governo do estado. O percentual, entretanto, não significa reverência aos resultados de sua gestão, cuja aprovação popular nada tem de extraordinária, nem mesmo uma plena aceitação tucana a seu nome.
Trata-se, basicamente, de realismo. Sem muitas opções, a sigla buscou o postulante com maiores chances de lhe proporcionar um sétimo mandato consecutivo no comando da máquina paulista.
Basta essa contagem para intuir o quanto o retrospecto favorece o PSDB, que construiu em São Paulo uma hegemonia política sem paralelo no restante da Federação.
Com o enfraquecimento dos concorrentes, em particular o PT, no interior do estado, o partido venceu no primeiro turno as três disputas mais recentes ao Bandeirantes —duas delas com o atual governador e pré-candidato ao Planalto, Geraldo Alckmin.
É evidente que tamanho predomínio está associado a méritos de gestão. Entre eles se destaca o ajuste orçamentário iniciado sob Mário Covas (de 1995 a 2001, quando morreu), com ajuda decisiva da privatização do Banespa, em 2000.
Ainda hoje, as contas paulistas não constituem nenhum primor: a dívida do estado permanece entre as maiores do país, e conta-se com escassa margem para investimentos. Mas, diante da ruína geral das finanças públicas brasileiras, Alckmin pode exibir seus resultados como trunfos.
Foi o que fez em entrevista a esta Folha —na qual também deixa entrever um discurso de campanha pragmático e conciliador.
Administração responsável, reformas, obras, empregos, segurança, é o que importa. “Não vou ficar brigando por coisa de PT”, diz.
O governador parece constatar que o antipetismo do eleitorado se diluiu ao longo do governo Michel Temer (MDB). Ademais, Luiz Inácio Lula da Silva, que o derrotou em 2006, deve ficar fora da disputa presidencial deste ano.
Há dúvidas, no partido, sobre a eficácia de tal retórica e da sisudez de Alckmin fora da zona de conforto paulista. É o que explica João Doria, propenso ao confronto ideológico, ainda ser cogitado como alternativa à corrida nacional.
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