- Folha de S. Paulo
Oceano de tempo à disposição de Geraldo Alckmin não bastou para torná-lo competitivo
Entre as muitas previsões erradas que fiz ao longo desta campanha, afirmei que o tempo de rádio e TV seria decisivo na disputa. Talvez seja precipitado dizer que a exposição nos canais abertos não importou nada. Fernando Haddad, por exemplo, poderia ter encontrado maior dificuldade para herdar os votos de Lula se não contasse com o segundo maior tempo de propaganda paga pelo contribuinte.
É seguro, contudo, dizer que o oceano de tempo à disposição de Geraldo Alckmin não bastou para transformá-lo num candidato competitivo. Algo parecido em escala mais diminuta vale para Henrique Meirelles. Já Bolsonaro, praticamente sem rádio e TV, é o primeiro colocado nas pesquisas. João Amoêdo e o Novo, também quase banidos das ondas hertzianas, devem conseguir resultados expressivos para um partido recém-criado.
Em termos estruturais, acho que dá para dizer que a revolução tecnocomportamental em curso faz com que a influência da TV e do rádio no debate político seja declinante, enquanto a das redes sociais e da internet em geral é ascendente. Isso não vale só para a política, mas para tudo. Meus filhos adolescentes raramente ligam a TV, mas estão sempre no YouTube e na Netflix.
Como acabamos de criar um fundo público de mais de R$ 2 bilhões para financiar campanhas eleitorais de políticos —que se soma ao fundo partidário e ao ressarcimento das emissoras de rádio e TV pelo horário eleitoral—, é importante perguntar se o caminho é esse mesmo.
Se o rádio e a TV já não são tão eficazes, talvez faça sentido diminuir sua utilização ou até mesmo acabar com esse tipo de publicidade financiada pelo eleitor. A economia de recursos poderia ser considerável e haveria incentivo para a busca de melhores modelos para levar informação sobre políticos ao público. Um bom exemplo são os vários sites que, através de algoritmos que identificam similaridades de pensamento, “casam” candidatos a eleitores.
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