Sistema partidário é pouco representativo, e a renovação dos políticos esbarra na legislação
Se a polarização entre direita e esquerda é uma característica desta eleição, outra são as elevadas taxas de rejeição dos dois candidatos que disputam a ponta, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Um fato deve estar ligado ao outro. A radicalização entre os postulantes do PSL e PT leva a isto.
No Ibope de quarta à noite, Bolsonaro atraía 42% de rejeição e Haddad, 37%, os dois com ligeiras quedas em relação à pesquisa anterior. Mas são níveis elevados. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, o cenário de altas taxas de rejeição se manteve.
Por óbvio, o fato não reduz a legitimidade do pleito. Como não torna de segunda categoria o político eleito em meio a baixos índices de votos válidos. Em países em que o voto não é obrigatório, não se contesta a qualidade da vitória dos eleitos, quando há baixo comparecimento do eleitorado. Importa é que a lei, as normas e as regras sejam cumpridas.
Esta disputa entre “rejeitados”, porém, merece análises. Uma constatação provável é que abstenções, votos nulos e em branco, caso se repitam, sinalizam problemas com o sistema de representatividade política. A última eleição municipal, principalmente no Rio, foi exemplar: o vencedor, Marcelo Crivella (PRB) teve menos sufrágios que os “não voto” (brancos, nulos e abstenções), e o segundo lugar, Marcelo Freixo (PSOL), perdeu para as abstenções.
Tudo certo do ponto de vista da lei, mas é indiscutível que o sistema não tem conseguido — se levarmos em conta também o andamento da atual campanha — apresentar candidatos que façam o eleitorado considerá-los como seu possível representante. Este distanciamento entre a política e as ruas tem causas variadas. Uma delas, a excessiva pulverização de partidos — 35 registrados, muitos na fila para se formalizar, e 25 com representantes nos Legislativo.
A facilidade com que partidos entram no Legislativo dilui a noção de representatividade e degrada a função do político, afastando bons quadros da atividade. Na verdade, há quem se lance na política a fim de ter acesso ao dinheiro público destinado generosamente para a atividade.
A luta para modernizar os partidos, tornando-os mais representativos, continua difícil. A cláusula de barreira aprovada para limitar o número de legendas no Legislativo é tíbia. Mas, pelo menos, subirá com o tempo, e o instrumento, vetado pelo STF, voltou a ser criado.
O pior é o fato de a virtual criação do financiamento público de campanha reforçar o monopólio dos caciques dirigentes no manejo do dinheiro da política. A prova dos danos está nesta eleição: a prioridade absoluta na distribuição deste dinheiro entre candidatos à reeleição e/ou apaniguados da cartolagem partidária. Significa impedir uma efetiva renovação dos políticos. Se misturarmos tudo isso com a radicalização político-ideológica, o resultado é o que se vê nos elevados índices de rejeição.
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