Por
Rafael Rosas e Daniela Chiaretti | Valor Econômico
RIO E SÃO PAULO - A saída do ministro Ricardo Salles da pasta do Meio Ambiente é fundamental para que o Brasil seja “levado a sério” na área ambiental. A afirmação foi feita ontem pelo ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública Raul Jungmann durante sua participação na Live do Valor.
“Ele
joga contra o projeto de desenvolvimento sustentável”, disse Jungmann,
acrescentando que Salles também “joga contra” o que o ex-ministro do governo
Michal Temer acredita ser o pensamento do segmento militar e daqueles “que
querem o desenvolvimento sustentável da Amazônia”. “Ricardo Salles efetivamente
não nos credencia externamente e internamente como tendo um projeto sério de
desenvolvimento e defesa do meio ambiente do Brasil”, frisou Jungmann, que
considerou ainda uma “estupidez” a decisão de derrubar os acordos fechados no
âmbito do Fundo Amazônia.
Durante
os mais de 40 minutos de conversa, Jungmann procurou demonstrar a necessidade
de diálogo e entendimento entre diferentes setores nas questões relativas à
defesa da soberania brasileira e na preservação do meio ambiente. Nesse
sentido, fez uma dura crítica à postura do candidato do Partido Democrata à
Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, que em debate com Donald Trump
propôs uma ajuda de US$ 20 bilhões para preservação da Amazônia e ameaçou o
Brasil de sanções caso o desmatamento continue a avançar. Para Jungmann, a
postura de Biden “é cheia de boas intenções, mas é colonialista”.
“Ajuda
à Amazônia tem que ser de acordo com nossos objetivos e com a nossa soberania”,
ressaltou.
O
ex-ministro demonstrou de que maneira o conceito da defesa da soberania acabou
virando um sinônimo de luta exclusiva da ala militar da sociedade. Para
Jungmann, a omissão da elite política civil em debater a questão acabou
transformando os militares praticamente no único segmento organizado da
sociedade a discutir o tema. Ele afirma que os integrantes das Forças Armadas
são defensores da preservação ambiental e que o principal problema na região
amazônica hoje passa pela falta de projeto nacional para o desenvolvimento
sustentável e pela falta de diálogo entre militares, ambientalistas e outros
atores da sociedade.
“Se a elite política civil não leva em conta os militares, também não será levada em conta [pelos militares]. Não cabe exclusivamente aos militares esse papel [de pensar a defesa do país e da Amazônia], que cabe à liderança política, que tem que estar à frente do processo, e não está”, disse.
Para
o ex-ministro, o distanciamento entre militares e sociedade civil é um erro,
uma vez que “o mundo militar é uma ferramenta da nossa soberania”, que não deve
ser usada como o “bombril da República” sempre que há uma questão em que o
governo precisa agir e acaba utilizando as Forças Armadas fora do seu escopo
original.
Jungmann
lembrou os temores dos militares com a existência de áreas indígenas e regiões
de preservação próximas às fronteiras, o que, na visão deles, abre uma
possibilidade futura de ameaça à soberania. “Esse é o entendimento militar”,
frisou. “Preocupação que tem que ser reconhecida e tem que gerar diálogo”,
acrescentou.
Jungmann fez questão de frisar que as organizações não governamentais “são importantíssimas” na Amazônia, embora haja o estereótipo de que elas não querem desenvolvimento da Amazônia. “A saída é dialogar e chegar a um consenso”, frisou. “Mas onde está o Estado?”, questionou, ressaltando que há a necessidade de convergir a preocupação de soberania dos militares com a preservação defendida por ambientalistas. “Enquanto não se construir isso e transformar isso em atividades sustentáveis, vamos estar queimando árvores. E isso é queimar dinheiro”, frisou.
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