Alcolumbre
está ocupado em tempo integral na montagem das batalhas pela reeleição
De hoje até o dia D da sucessão das presidências da Câmara e do Senado, serão 110 dias, tempo suficiente para correção de rumos.
Na
Câmara, está claro o processo da disputa de duas forças políticas. De um lado,
o governo. O deputado Arthur Lira torna-se
representante do Palácio do Planalto e, se for eleito, transfere o comando da
Câmara ao próprio presidente Jair Bolsonaro.
De outro, a Câmara propriamente dita. A entrega da presidência ao controle preferencial dos deputados, o que representaria a continuidade da liderança de Rodrigo Maia. Depois de aparecerem vários favoritos, o candidato do grupo autonomista à presidência, no momento, é Baleia Rossi, do MDB de São Paulo.
Com
as bênçãos do atual presidente e alavancado pelo trabalho de aliciamento do
ex-presidente Michel Temer.
Que, atuando em causa própria, elegeu-se presidente da Casa em três
legislaturas. Temer é reconhecido como o maior especialista nestas negociações
típicas da atividade parlamentar.
Já
a sucessão da presidência do Senado tornou-se um balé de sombras. O atual
presidente, senador Davi Alcolumbre, persegue um desfecho
do tipo ilegítimo e ilegal.
Alcolumbre
voluntariou-se para reeleger-se. Uma decisão pessoal, cuja razão real ainda não
emergiu.
Como
se o instituto da reeleição, por si só, já não envolvesse tantas dúvidas e
clamores por sua extinção, Alcolumbre acrescentou outras transgressões. A
começar pela hipótese de exigir uma decisão judicial para viabilizar seu
desejo. O presidente do Senado assumiu tal obstinação e paralisou as atividades
da Casa.
No
último domingo, 11 de outubro, em reportagem no Estadão, Amanda Pupo listou os
itens do “paradão” do Senado. Nas votações suspensas ou adiadas estão
urgências, como o novo marco legal do mercado de gás, as regras para regulação
dos setores ferroviário e elétrico, sem falar das votações em sessões conjuntas
do Congresso. Que não avançam porque dependem da atuação do presidente do
Senado, ocupado em tempo integral na montagem das suas mirabolantes batalhas
pela reeleição.
O
silêncio do Senado conta com a conivência da oposição, dos ex-governadores, dos
estreantes, dos antigos e de todos. Indiferentes às ações do presidente da
Casa, que só age quando se torna premente usar, através da sua, a mão oculta do
governo na definição das pautas.
Na
verdade, o Senado sempre teve uma tradição de vida serena, em oposição à
trepidante Câmara. Ou seja, cada um, ali, faz o que quer, sem ser incomodado.
Paz quebrada, em períodos da história, por independentes bons de briga e de
discurso, como foram o senador Pedro Simon, por 30 anos, ou, muito
remotamente, o legendário senador Teotônio Vilela. Agora, nem isto.
A
imobilidade do Senado é estratégica. Os ex-governadores, experientes em
composições esdrúxulas nas bases estaduais, tendem a repetir o descompromisso
ao assumir o Senado.
E
a oposição não tem oportunidade de se exercitar. Como se vê pelo repertório do
seu líder, Randolfe
Rodrigues. Que se sobressai muito mais nas votações do Supremo
do que no próprio Senado. Mais advogado do que senador. Mais demandante
judicial que parlamentar em ação.
E,
à falta do Centrão, que inexiste no Senado, o governo caça com Alcolumbre. O
Senado resolveu se tornar, de fato, uma Casa secundária. Presta-se pouca
atenção ao que lá se passa e, sobretudo, ao que não se passa.
O
Congresso, de fato, não se renovou. Câmara e Senado seguem como orquestras
paralelas. E o velho maestro arranjador de outros tempos, senador Renan
Calheiros, acaba de retornar ao posto para reforçar a pretensão de Davi
Alcolumbre, que o destituiu e agora se beneficia de seu apoio e renovado
fôlego.
Numa composição esperta, que dá a Bolsonaro tempo livre para abandonar-se à obsessão contagiante: a sua própria campanha da reeleição.
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