O
melhor caminho é a imprensa parar de cobrir a atividade dos três zeros de
Bolsonaro
No
dia 7 de maio do ano passado, uma quinta-feira como hoje, publiquei nesta
página um artigo dando três sugestões para combater o bolsovírus, praga mais
infectante e perigosa que o corona. Uma delas era parar de cobrir os faniquitos
do presidente na porta do Palácio da Alvorada. Ali, diante daquele grupelho de
apoiadores cegos que se reúnem para babar seus ovos, Bolsonaro dá vazão aos
seus instintos, com mentiras aos quilos, grosserias aos montes e, sobretudo,
ataques à imprensa. Claro que não foi para atender à minha recomendação, mas
muitos veículos deixaram de cobrir aquela triste rotina, e apenas os mais
mansos e amigos seguem dando microfone para as asneiras matinais ou vespertinas
de Bolsonaro.
Esta
semana, a ONG Repórteres Sem Fronteiras divulgou o número de ataques que
jornalistas brasileiros sofreram em 2020, e não deu outra. Os Bolsonaros
lideram com folga o ranking nacional. Os dados são estarrecedores para um país
que se quer democrático. Das 580 ofensas contra jornalistas contabilizadas pela
ONG, 85% (469) foram proferidas pelo presidente da República e seus três zeros.
O mais ignóbil é o golpista (um cabo e um soldado bastam para fechar o
Congresso) Eduardo, com 208 impropérios. O mais leve é o Flávio das
rachadinhas, autor de 69 agressões. De Carlos, chefe do gabinete do ódio,
partiram 89 ataques.
Da boca de Jair, saíram 103 ofensas a jornalistas. Um absurdo se analisado de qualquer ponto de vista. Os ataques dessa gangue se devem ao fato de seus membros não suportarem críticas. Julgam que podem fazer ou dizer o que bem entenderem e que ninguém tem o direito de lhes contestar. Eles carregam em seu organismo o germe do autoritarismo e da intolerância, por isso a avalanche de barbaridades que pronunciam sistematicamente contra jornais e jornalistas, na média de 1,28 a cada dia.
Todo
mundo sabe que atacar jornalistas é igual a combater o mensageiro. O problema
não é quem traz a notícia, mas quem a produz. No Brasil, quem fabrica as
notícias negativas que incomodam a família presidencial é o próprio chefe do
clã ou o seu governo. Não foram jornalistas que encaminharam à Câmara 62
pedidos de impeachment do presidente. Em média, o imóvel Rodrigo Maia recebeu
um pedido de afastamento de Bolsonaro a cada 12 dias. Trata-se de um recorde
que merecia entrar para o Guinness. Esta semana, 380 líderes religiosos
cumpriram o ritual. Eles querem o afastamento do presidente por suas ações e
omissões durante a pandemia.
Enquanto
isso, o capitão e seus filhos agridem jornalistas com suas costumeiras
baixarias. O que se deve fazer diante desse descalabro? O melhor caminho é a
imprensa parar de cobrir a atividade dos três zeros. Eles importam pouco. Claro
que são mais do que filhos do homem, são parlamentares. Mas conte nos dedos
quantos deputados e senadores merecem a atenção dos jornalistas. Alguém já
ouviu falar do deputado Júnior Marreca Filho (Patriotas-MA) ou do senador
Mecias de Jesus (Republicanos-RR)? Pois é. Sugiro dar aos zerinhos a mesma
atenção dedicada a Mecias (com c mesmo) e a Marreca.
A
história sempre foi boa conselheira. Vejam o espaço que a imprensa deu aos
filhos de presidentes no passado, fora os escândalos que são de cobertura
obrigatória. Os filhos de Sarney, Roseana e Zequinha, eram parlamentares e só
foram notícia por esporádicas ações políticas, todas legais, ou por denúncias.
Não se metiam no governo do pai, embora se projetassem com seu sobrenome. Os
filhos de Fernando Henrique também não eram protagonistas e não tinham mandatos
eletivos. Os de Lula, da mesma forma, não davam pitaco e só apareceram em
escândalos. A única filha de Dilma sempre se manteve discretamente afastada. A
filha de Temer só virou notícia por causa de uma denúncia, e Michelzinho era um
menino quando o pai governou.
Impossível
impedir que os bozinhos continuem atacando jornalistas nas suas redes. Mas
seria inteligente se os jornalistas de verdade não lhes dessem eco.
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