O
cenário político não sugere riscos imediatos a Bolsonaro, mas a volatilidade é
alta
Trazido
por ele mesmo à discussão, o impeachment de Jair
Bolsonaro é uma possibilidade de baixíssima probabilidade no
momento. A razão está em linha com o principal aspecto da política no Brasil de
longa data: o impeachment não é visto como uma questão de princípio, mas, sim,
como de oportunidade.
É a oportunidade percebida pelos agentes políticos que faz surgir os motivos, e não o contrário. Soa bastante cínico para quem acredita em princípios na política, e aí reside provavelmente a grande originalidade de Maquiavel: na política é impossível realizar princípios.
Bolsonaro
provavelmente tem consciência clara – pois se trata da própria sobrevivência
política – de que os interessados em tirá-lo do poder não tem carência alguma
de motivos sólidos para montar contra ele um processo político de impeachment.
Cumpre, portanto, não criar a oportunidade.
Por enquanto ela está afastada diante do fato de Bolsonaro ter entregue ao Centrão o comando da política – exatamente as forças que ele prometeu nas eleições tirar do mapa. Como se trata de um governo com escasso comando de qualquer programa (qual, aliás?) e norteado apenas pelo princípio da sobrevivência política em nome da reeleição, o entendimento com forças políticas como as do Centrão é bastante conveniente, e fácil.
É
o que está acontecendo. Escapar da oportunidade do impeachment não é a única
preocupação do atual governo e seu chefe. A outra, igualmente importante, é
assegurar algum tipo de continuidade em programas assistenciais num ambiente
fiscal sufocante. Considerando o que sempre foi a política brasileira, é fácil
prever o que virá.
Confrontados
com escolhas políticas difíceis, porém incontornáveis, os governantes (aí
entendido o Legislativo) seguirão o caminho do menor esforço. É o da renúncia
fiscal para acomodar interesses setoriais (como reduzir impostos sobre
combustíveis para agradar a uma plateia que considera importante, a dos
caminhoneiros) e aumentar a arrecadação via aumento de tributos – algo que não
só o governo federal pratica.
Atacar
a questão fiscal pelo lado do corte de despesas significa não só controlar os
chicletes e latas de leite condensado adquiridos pelo governo federal.
Significa enfrentar seu maior componente, as folhas de pagamento do
funcionalismo, e esta é uma espinhosa questão política para um governo que só
pensa em soluções mágicas e adocicadas. Significa mobilizar uma considerável
energia política para pelo menos tentar uma reforma tributária que –
inevitavelmente – vai bater em setores acostumados a defender seus (legítimos)
interesses às custas dos cofres públicos.
Do
jeito que a agenda eleitoral de Bolsonaro (assumindo que existisse alguma bem
articulada) se deteriorou nos últimos dois anos, hoje não se sabe se o
presidente repete um mantra verbalizado por Guedes ou se Guedes repete um
mantra cunhado por Bolsonaro. Ambos mantêm discurso razoavelmente afinado, no
qual cada vez menos gente acredita, segundo o qual, com a pandemia de alguma
forma controlada, a economia se recupera de alguma forma, as reformas (só
então) se concretizam de alguma forma e então a reeleição se dará de qualquer
forma.
Não é uma aposta descabida, dados o ambiente da política brasileira e a incapacidade até aqui demonstrada pelas forças democráticas centristas de organizar um nome, uma agenda e uma estratégia de ação para substituir Bolsonaro e o que ele representa. Existe um componente enorme de volatilidade nesse cenário de precário equilíbrio. É o fato de que, até aqui, Bolsonaro foi o pior adversário de si mesmo. E a boa vontade de quem por ofício terá de denunciá-lo é muito menor do que as aparências sugerem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário