Por
Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO
PAULO - Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer criticaram
ontem as ameaças à democracia feitas durante o governo Jair Bolsonaro, em atos
pelo fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois
ex-presidentes, no entanto, afirmaram que não veem nas Forças Armadas o ímpeto
para apoiar um eventual governo autoritário e descartaram uma nova ditadura
militar no país.
Ao
participar de uma conferência virtual do Credit Suisse, Temer lembrou que
“houve tentativas de ameaça à democracia” recentemente. “Não tem dúvida disso.
Não poderia ignorar aqueles movimentos que se deram em certo momento do governo
atual e que pleiteavam o fechamento do Congresso, fechamento do Supremo
Tribunal Federal, até com razoável agressividade. Mas não sinto que haja clima
para uma derrota da democracia no nosso país”, afirmou. A declaração foi uma
resposta à pergunta feita pelo mediador da conferência, Ilan Goldfajn,
presidente do Conselho do Credit Suisse no Brasil, se há ameaças à democracia
no país e como tem sido a atuação das instituições.
Temer
afirmou que é “inviável” um golpe de Estado se não houver apoio das Forças
Armadas e disse que “jamais” sentiu nos militares “qualquer tentativa de romper
com as estruturas democráticas”. “Convivi muito com membros das Forças Armadas
e jamais senti neles qualquer tentativa de agredir a Constituição, ou seja, de
romper com as estruturas democráticas”, disse. “Não vejo como pensar em golpe.”
O ex-presidente ressaltou o papel das instituições como o Legislativo e o Judiciário e afirmou que uma ameaça “não quer dizer” que vai resultar na derrubada da democracia. “As instituições estão funcionando”. Para Temer, a troca no comando dos Estados Unidos, com a eleição do presidente Joe Biden e a saída de Donald Trump, ajuda a manter o sistema democrático no Brasil.
Fernando
Henrique avaliou que o país vive um “mal-estar”, com o agravamento dos
problemas econômicos, sobretudo com o empobrecimento da população e o aumento
do desemprego, e afirmou que o governo precisa agir para controlar a
insatisfação popular. “Se houver desordem, ninguém segura”, declarou. No
entanto, o tucano disse que os militares não desejam o poder neste momento.
“Eles aprenderam”, disse. “Os militares se voltaram para o lado democrático,
não acho que estão pensando em golpe.”
Ao
discutirem os cenários para 2022, Fernando Henrique disse que Bolsonaro tem
grande chance de se reeleger se o principal adversário na disputa for o PT. FHC
avaliou que Bolsonaro continua forte, apesar de sua popularidade ter caído, e
defendeu um nome que represente as forças políticas de centro para concorrer
contra o presidente. O tucano afirmou ainda que se arrepende de ter viabilizado
a reeleição no país.
Na
avaliação de FHC, o candidato que concorrer contra Bolsonaro precisa aglutinar
diferentes forças políticas. “Se ficar PT e Bolsonaro, a chance de Bolsonaro
ganhar é grande. Atribui-se muita coisa errada ao PT”, afirmou. “Se quisermos
ter possibilidade de vitória, tem que unir todas as forças. Todas as forças que
se dispuserem a trabalhar. Isso vai depender de quem é o candidato.”
O
tucano citou como eventuais candidatos os governadores João Doria (São Paulo) e
Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), ambos do PSDB, e o apresentador Luciano
Huck, sem filiação partidária. “Eles têm que assumir posições que agreguem. Se
estiverem desagregados, o outro lado ganha. Precisa ter capacidade de falar em
nome da maioria”, disse FHC.
Temer
evitou falar em nomes para 2022 e disse que é “importante encontrar alguém que
saiba sensibilizar a vontade popular”. “Essa história de centro, direita,
esquerda, isso não existe mais. O povo quer resultado. Se o resultado for
positivo, o povo aplaude. Tanto faz de centro, direita e esquerda”, afirmou.
Durante a conferência, FHC fez “mea culpa” por ter articulado e aprovado a reeleição quando era presidente, para ter mais quatro anos de mandato. O ex-presidente disse que o ideal seria um mandato de cinco anos. “Acho ruim para o Brasil o instituto da reeleição. É uma autocrítica”, afirmou. Em seguida, voltou a falar que a possibilidade de Bolsonaro ser reeleito é “sempre grande”. “É um erro pensar que porque ele caiu na pesquisa, ele perdeu poder de aglutinar.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário