domingo, 21 de setembro de 2025

Igualdade. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro retrata conversa entre o filósofo Michael Sandel e o economista Thomas Piketty

Autores defendem pacote básico da esquerda, mas propõem algumas ideias novas, como sorteio de senadores

E se, no espírito da velha democracia ateniense, começássemos a preencher cargos na administração pública por sorteio? A ideia é do filósofo Michael Sandel (Harvard). Para combater alguns dos efeitos perversos da desigualdade, ele sugere que países que tenham Parlamento bicameral, caso dos EUA e do Brasil, passem a definir os membros do Senado não por eleição, mas por sorteio.

A proposta está em "Equality", livro que resultou de um encontro entre Sandel e o economista francês Thomas Piketty na Escola de Economia de Paris em 2024. O debate entre os dois tem algo de conversa de comadre, já que eles concordam em quase tudo.

Defendem o pacote básico de esquerda, que inclui impostos progressivos, investimentos em saúde e educação públicas, poder para sindicatos e quem sabe até algum controle de capitais. Mas também há espaço para ideias que fogem ao convencional, como a proposta dos sorteios.

A questão do Parlamento é, na verdade, uma derivada. Sandel defende já há tempos que o sorteio seja usado como um dos critérios de admissão de alunos em universidades de elite, como Harvard. A extensão dessa ideia para o Legislativo é que pelo menos para mim soa como novidade.

Em ambos os casos, a ideia é combater a falsa noção de que vivemos numa sociedade meritocrática, em que as pessoas recebem compensações justas por suas virtudes ou defeitos. Ainda que a ideia nos repugne, dos genes às oportunidades, é o acaso que está no comando.

Penso, porém, que o mecanismo sugerido por Sandel funcionaria melhor nas universidades do que no Parlamento. É que, no caso das escolas, não é difícil fazer, antes do sorteio, uma pré-seleção que assegure a qualidade acadêmica de todos os candidatos. No Legislativo, é mais complicado.

Eu pelo menos jamais votaria em mim, pois estou certo de que não tenho o que é necessário para ser um bom congressista, mesmo que não saiba nem enumerar essas virtudes. Quando escolho meu deputado ou senador é justamente por ele ser diferente de mim.

 

 

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