O Globo
Com tanto para debater, vem a impressão de que não dará tempo de a humanidade evitar o colapso
Uma das coisas mais angustiantes de cobrir
uma COP é saber o que de concreto pode sair daqui para evitar que fritemos sob
o calor em alguns anos. Muitas plenárias discutindo temas menos urgentes,
linguagem diplomática repleta de generalidades e uma penca de chavões nos
discursos dos participantes inundam os debates. É inevitável a sensação de que
estamos patinando, e o gelo derrete sob os nossos pés.
A própria agenda da COP30 é um desafio por si só, composta por nada menos que 145 pontos, com assuntos que vão de gênero a financiamento. Desses, 20 são considerados o núcleo duro, justamente por demandarem resultados objetivos. É o caso da agenda da adaptação, que definirá em Belém cem indicadores de como os países devem lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Para ter uma ideia, esse ponto da agenda é dividido em três. Para cada um deles, uma reunião específica. Com tanto para debater, vem a impressão de que não dará tempo de a humanidade evitar o colapso.
Liliam Chagas, diretora do Departamento de
Clima do Itamaraty, ajuda a travar a batalha que, pelo olhar de quem está fora
das salas de negociações, parece quixotesca. Ela é uma das principais
negociadoras do Brasil e a única embaixadora no time de Mauricio Lyrio. Os dois
comandam um time de 30 diplomatas que atuam em campo aqui em Belém. São os
negociadores brasileiros, que se dividem em pequenos grupos de até três
diplomatas e entram nas salas de negociação para defender a posição do país nas
dezenas de temas, posição firmada meses antes, em Brasília, em reuniões do
Comitê Interministerial sobre Mudança no Clima. Precisam dominar não só as
regras da ONU, de horário a intervenções, mas também os temas, a posição
brasileira em cada um deles e, o mais difícil, a estratégia de negociação na
mesa para atingir o objetivo final. Entram nas salas muitas vezes acompanhados
de representantes de outros ministérios, como Fazenda, Meio Ambiente ou Ciência
e Tecnologia. Quando o assunto da agenda é mais crítico, Lyrio e Chagas entram
em campo para negociar.
São cerca de 30 mesas de negociação por dia,
com países, invariavelmente, barrando avanços em determinados temas, como
diminuição da dependência dos combustíveis fósseis. Desde domingo, a COP tenta
avançar em quatro pontos fundamentais da agenda, que, de tão encrencados, foram
apartados — ou, como a organização brasileira diz, num eufemismo, passaram a
ser abordados de maneira “original”. Entre eles, financiamento e relatórios de
transparência sobre metas nacionais para reduzir emissões de gases de efeito
estufa. Parte expressiva do mundo também não cumpriu as obrigações do Acordo de
Paris, de 2015, que determinou a revisão das metas nacionais a cada cinco anos
pelos 194 signatários. Novo prazo foi dado e, até ontem, 112 países fizeram a
revisão. As metas, se cumpridas, no entanto, não seguram o aumento de
temperatura no 1,5°C previsto no Acordo de Paris.
O quadro é difícil, ainda mais sem os Estados
Unidos, grande poluidor. Mas não há saída para além da negociação. A nós,
mortais do lado de fora das salas de reunião, só resta torcer para que a
diplomacia funcione.

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