terça-feira, 16 de outubro de 2012

Paisagem sem Ulysses - Tereza Cruvinel


Foi no discurso do presidente do Congresso, senador José Sarney, que apareceu ontem a referência sobre uma impensável, há 20 anos, paisagem política sem Ulysses Guimarães. Impensável, mas realizou-se, e se tornou, sem dúvida, uma paisagem mais árida, mais pobre, de um impressionismo descolorido. A sessão para homenagear a trajetória de Ulysses e os 20 anos de seu desaparecimento foi uma rápida ressurreição dos grandes momentos da vida parlamentar, daqueles em que as diferenças e as disputas são postas de lado para realçar algo maior, uma pessoa ou uma causa. O nome de Ulysses reúne hoje sua figura e sua causa, a da construção da democracia brasileira.

Na plateia, havia amigos pessoais com largo conhecimento da esfinge Ulysses, como o "restaurateur" Marco Aurélio Costa, do Piantella, o jornalista Jorge Bastos Moreno, o ex-secretário particular Oswaldo Manicardi, entre outros. Mas na mesa, Sarney foi quem mais conheceu Ulysses. Conviveram, como deputados, desde 1955. Ele na UDN, Ulysses no PSD. Juntaram-se nos anos 1980 para fazer a transição e eleger Tancredo. Divergiram durante o governo de transição de Sarney, mas, como ele recordou ontem, sempre dentro dos limites do respeito e da civilidade política.

"Quando tínhamos desencontros, silenciávamos para preservar o respeito, e nossas conversas cessavam por um tempo, sem qualquer alteração na convivência, sem elevação de vozes" recordou Sarney.

No governo de Sarney, Ulysses foi chamado de condestável. O senador peemedebista evitou a palavra, mas confessou a enorme deferência que, como nenhum outro presidente da República, teve para com o líder partidário e presidente da Câmara. E, recordando os tempos finais — Ulysses morreu com 76 anos —, recordou aquela frase tão dita e repetida:

"Sou velho, mas não sou velhaco."

Havia outra, de que Ulysses também gostava: "O diabo é sábio não é por ser diabo, é por ser velho".
Antes de Sarney, falou o vice-presidente Michel Temer, confessando a reverência que tinha para com a figura sóbria que lhe ensinou a valorizar o Legislativo. Podendo, Ulysses nunca quis disputar outro cargo, senão o de deputado. Quantos, hoje, fariam isso?

A chuva caiu e a sessão entrou pela noite, com evocações de Ulysses nos discursos de Rose de Freitas, Luiz Henrique e outros tantos. Sem ele, a paisagem ficou mais árida, mas, se estivesse aqui, estaria se batendo pela valorização da política e da representação popular, que vêm sendo tão espancadas.

O vice de Dilma. Antes mesmo do segundo turno, a ampulheta já virou e abriu-se a disputa, por ora dentro do PMDB, pelo lugar de vice na chapa de Dilma à reeleição. Mal o prefeito reeleito do Rio, Eduardo Paes, lançou o nome do governador Sérgio Cabral, um arqueiro de Michel Temer, o ex-deputado Geddel Vieira Lima, disparou a lembrança dos guardanapos na cabeça, naquela foto com o empresário da Delta em Paris.

 Queimou Cabral. Dilma tem dito que a vaga é do PMDB e que não vê motivos para trocar Temer. Se está dando certo num papel tão delicado, por que trocar? Já teria perguntado.

Mas tem ainda a ambição do governador Eduardo Campos, do PSB, que, para não ser candidato em 2014, estaria disposto a pleitear o posto.

Dívidas com o PMDB. Eduardo Campos tem uma grande dívida para com o PMDB: o partido bateu-se com disposição para garantir a aprovação do nome de sua mãe, Ana Arraes, para ministra do TCU. Henrique Alves, agora candidato a presidente da Câmara, chegou a desautorizar deputados do partido que pretendiam votar no candidato Átila Lins.

Um pagamento da fatura vem agora: o PMDB espera que o governador desautorize a candidatura avulsa, que estaria em gestação, do deputado pelo PSB mineiro Júlio Delgado ao mesmo posto. Outra parcela o governador pagaria deixando em paz o lugar de Michel Temer na chapa de Dilma.

Talvez ele ache caro demais.

Dilema no Maranhão. Em São Luís, a disputa no segundo turno é entre Edivaldo Holanda (PTC), candidato apoiado pelo presidente da Embratur, Flávio Dino, (PCdoB), e o candidato do atual prefeito, João Castelo (PSDB). Ambos são adversários da família Sarney, que, até agora, não anunciou apoio a ninguém. Holanda é da base governista, mas apoiá-lo será fortalecer a candidatura de Dino à sucessão da governadora Roseana Sarney em 2014. Apoiarão Castelo? Há quem duvide. 

Sem pauta. Os deputados começaram a voltar ontem a Brasília e precisam mostrar trabalho. O mar não está para peixe na classe política. O líder do governo, Arlindo Chinaglia, reúne os líderes da base governista hoje para selecionar matérias que precisam ser logo votadas. Podem começar com a medida provisória que autoriza a renegociação das dívidas dos estados. Ela precisa ser logo aprovada, até porque muitas negociações já foram feitas e consumadas.

Fonte: Correio Braziliense

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