Declarações de Paes e de Pezão lançando governador para vice de Dilma
irritam cúpula nacional do PMDB
Fernanda Krakovics, Maria Lima e Luis Gustavo Schmitt
BRASÍLIA - O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito
reeleito, Eduardo Paes, passaram o dia ontem disparando telefonemas para o
vice-presidente Michel Temer e dirigentes do PMDB, mas não conseguiram
convencê-los de que não passou de um arroubo a defesa, feita por Paes, para que
Cabral substitua Temer como vice de Dilma Rousseff em 2014. Mais do que
surpresa e mal-estar com o atropelamento de Temer dois anos antes da eleição,
há uma indignação entre os integrantes do "grupo temerista", que
chamam o governador de "ingrato". Alguns lembraram que o PMDB blindou
Cabral na CPI de Carlinhos Cachoeira, impedindo sua convocação para explicar os
contratos com a Construtora Delta e a relação com o empresário Fernando
Cavendish.
Temer esteve ontem no Senado para participar de sessão em memória dos 20
anos da morte de Ulysses Guimarães. Mostrava desconforto. Mas tentou encerrar o
assunto:
- Não tenho o que comentar. Remeto ao Twitter do próprio Sérgio Cabral. Ele
dá a palavra definitiva sobre isso e tem reiterado isso para todos. Disse que
estava tudo como está. Ele já é governador, tem um espaço extraordinário.
Quanto ao futuro, ele sempre terá uma posição de muito relevo - afirmou o
vice-presidente.
Aliados de Temer diziam, entretanto, que Cabral está usando o prestígio de
Paes, pós-eleição, para tentar cavar um cargo para o PMDB do Rio na Esplanada,
para compensar um novo ministério que estaria sendo negociado para São Paulo em
troca do apoio do PMDB a Fernando Haddad. A leitura que os aliados de Temer
fazem é que Paes está inflando Cabral para ele próprio ocupar um ministério.
- Paes não tem voz dentro do PMDB. Não tem nenhuma chance disso prosperar e
o Cabral sabe disso. Essa é uma declaração extemporânea, fora de hora,
inapropriada. Isso é salto triplo sem rede. Uma das garantias da eventual
aliança nacional com o PT é a manutenção do Temer - disse o diretor da Caixa
Econômica Federal, Geddel Vieira Lima.
Embora Cabral tenha atribuído o lançamento de sua candidatura a um arroubo
de Paes, ninguém no partido acreditou, já que seu vice, Luiz Fernando Pezão,
fez declaração semelhante em entrevista ao "Extra", no sábado. Ontem,
Pezão tentou desfazer o mal-estar, mas admitiu que Cabral, agora, é um nome de
peso nacional.
- Ele (Cabral) disse que seu país é o Rio de Janeiro. E tem uma ótima
relação com o vice-presidente Michel Temer. No Rio, o PMDB tem agora um nome de
peso nacional. O Cabral é um nome forte para compor qualquer quadro daqui para
frente até mesmo o de ministro - disse Pezão.
Na cúpula do PMDB, a movimentação do trio Cabral, Paes e Pezão neste momento
foi considerada "amadorismo". O presidente do PMDB, senador Valdir
Raupp (RO), tentou também amenizar:
- O Sérgio disse que possivelmente nem sai do governo (do estado). Qualquer
projeto seria para depois do final do governo. O candidato dele é o Michel.
Estamos preparando o Cabral para disputar a Presidência em 2018 - disse Raupp.
Dilma: temer vice leal e correto
Na manhã de ontem, o presidente do PMDB ligou para o prefeito do Rio para
tirar satisfação. Paes teria atribuído a declaração, segundo o presidente do
PMDB, a um arroubo "do calor da vitória no Rio". Cabral já havia
telefonado para Temer na sexta-feira, quando Pezão falou do assunto, e ontem
voltou a ligar. O governador também telefonou para o presidente do Senado, José
Sarney (AP), e para os líderes do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e na
Câmara, Henrique Alves (RN).
O episodio está servindo para estimular um movimento de fortalecimento de
Temer, que deve ser reconduzido à presidência do partido na próxima troca de
mando.
Para a presidente Dilma esse é um assunto do PMDB. Mas fez chegar ao vice e
aos comandantes do partido que considera Michel Temer um vice correto e leal
com seu governo.
No Rio, o governador Sérgio Cabral não comentou as declarações. No sábado,
no Twitter, escreveu:
- Fico muito feliz com a lembrança do meu nome para Vice-presidente da
República. Eduardo Paes, na revista "Época", e Pezão, no jornal
"Extra", como sempre companheiros queridos e leais. Mas o PMDB já tem
na vice-presidência Michel Temer. Que tem sido um grande companheiro de jornada
da presidenta Dilma. E que merece junto com a presidenta se reeleger
vice-presidente em 2014. Com o meu total apoio.
Procurado pela reportagem, Paes não se pronunciou sobre o assunto.
Fonte O Globo
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