- Folha de S. Paulo
A crise da Petrobras é tão violenta e multifacetada que fica difícil enxergar a ponta do fio capaz de resgatá-la do enrosco. Corrupção, colapso administrativo, ineficiência e incompetência se misturam e se reforçam. Deixam ruínas bilionárias pelo caminho e engolfam a estatal em descrédito e zombaria.
A catarse na empresa ajuda a tirar o foco das decisões que, no âmbito do Executivo e do Legislativo, foram responsáveis pela gênese do monstro. Trata-se do projeto de erigir no Brasil um Estado paralelo, organizador de interesses políticos e empresarias, chamado Petrobras.
Os artífices desse programa anularam o vetor que desde os anos 1990 mitigava a vocação monopolista da empresa. Impuseram-na como operadora dos campos do pré-sal. Obrigaram-na a adquirir no Brasil toda sorte de equipamentos e insumos de exploração. Determinaram uma expansão de gastos e investimentos de dar inveja a faraós do passado e xeques do presente.
Não se impute apenas ao PT de Lula e Dilma a responsabilidade pelo portento. A massa de partidos indistintos que provê maioria no Congresso sempre esteve à procura de um manancial de cargos, verbas e contratos dessas proporções. Um conjunto significativo de empresas também lambeu os beiços diante do butim.
Era a própria democracia que esse consórcio predava com sua criatura tentacular. O jogo do grande poder e do dinheiro grosso se desviava dos trâmites institucionais, tomava um atalho nas trevas dos gabinetes e conspurcava a Constituição.
Mas a República reagiu. Polícia, Tribunal de Contas, Procuradoria, Justiça, opinião pública, imprensa livre e instituições de mercado conseguiram resistir a esse titã do autoritarismo e da ineficiência. Na semana passada, a ainda presidente da Petrobras admitiu que a estatal encolherá bastante. Num início de ano cheio de notícias ruins, há algo para comemorar.
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