• Considerado um aliado pouco confiável, ele teve 267 votos, contra 136 do PT
• Novo presidente deverá ser alvo de inquérito no STF no caso da Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras
Ranier Bragon, Márcio Falcão, Andréia Sadi e Natuza Nery – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff sofreu uma derrota histórica neste domingo (1º) com a eleição em primeiro turno do peemedebista Eduardo Cunha (RJ), 56, para a presidência da Câmara dos Deputados.
Considerado um aliado pouco confiável, já que liderou rebelião contra Dilma em 2014, ele bateu o petista Arlindo Chinaglia (SP), nome bancado pelo Planalto, por 267 votos contra 136.
O anúncio foi comemorado com fogos de artifício disparados por aliados na Esplanada dos Ministérios. Horas antes, petistas já haviam "jogado a toalha" e buscavam culpados pelo vexame. Outros 100 deputados votaram em Júlio Delgado (PSB-MG) e 8, em Chico Alencar (PSOL-RJ). Houve 2 votos em branco.
A votação foi secreta e a traição, grande. Apesar de os partidos que apoiavam Chinaglia reunirem 180 cadeiras, ele teve 44 votos a menos. "Uma parte não votou em mim, o que você quer que eu diga?", lamentou o petista.
Houve consenso de que PR, PSD e PDT lideraram as traições. Partidos que têm ministérios no governo já haviam aderido oficialmente a Cunha, entre eles o PRB de George Hilton (Esporte).
"Se fosse a Dilma, eu demitia o ministro amanhã, senão vão achar que ela é frouxa", comentou o deputado Paulo Maluf (PP-SP).
Apesar de adotar um discurso de que não fará uma gestão de oposição ao governo, Cunha tem agora poderes para dar seguimentos a CPIs incômodas para o governo e até a eventual processo de impeachment contra Dilma.
Ele afirmou que eventual pedido de impedimento é "descabido". Em seu discurso no plenário da Câmara, porém, sublinhou o mal-estar com o PT e o governo. Disse que foi tratado como inimigo.
"Não há possibilidade de que eu vá exercer uma gestão de oposição, mas também ninguém vai me ver se curvar ou ser submisso a qualquer coisa que não seja a vontade da maioria desta Casa."
Em sua primeira fala após ser eleito, anunciou como primeira medida a votação de tema incômodo ao Planalto, a proposta que obriga o governo a liberar verbas para as emendas que os congressistas fazem ao Orçamento.
Evangélico, Cunha já deu declarações contrárias a projetos de movimentos sociais e da comunidade gay. Também já disse que não apoia o fim do financiamento privado de campanhas e a regulação econômica da mídia, defendidos pelo governo.
A última vez em que o governo federal sofreu derrota semelhante na Câmara foi na vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) em 2005.
Pego de surpresa pelo resultado, o Planalto avaliou ter uma base real de apoio de apenas 136 deputados, os que votaram em Chinaglia, mas que usará a montagem do segundo escalão para reaglutinar a base. Nos debates sobre a razão do fracasso, a atuação de ministros foi criticada.
Iniciando seu quarto mandato, Cunha presidirá a Câmara até janeiro de 2017, sucedendo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
O novo presidente da Casa deverá ser alvo de inquérito no caso que apura o esquema de corrupção na Petrobras. O peemedebista nega ter qualquer relação com o caso.
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