- Folha de S. Paulo
Lá se foi apenas um mês de 2015 e a sensação é de que já estamos nos arrastando de tanto peso nas costas. Tarifaço, inflação em alta, contas públicas no vermelho, juros subindo, desemprego aumentando, crises hídrica e elétrica e um cheiro danado de recessão no ar.
Um começo de ano deprimente, uma volta rápida e cruel à realidade depois da fantasia eleitoral. Em troca, somos apenas convidados a suportar o remédio amargo do ajuste na política econômica para fazer a dura travessia do deserto.
Necessário, mas necessitamos de mais. Não dá para ficar somente sob a égide da equipe econômica, que aumenta imposto daqui, corta gastos dali, sobe juros ali e faz seu trabalho, essencial, para resgatar a confiança perdida no governo.
Falta um pouco de esperança, de um animador de auditório, que prepare o terreno e crie condições para o país deslanchar enquanto Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini fazem o trabalho pesado.
Algo que sobrou no governo Lula, personificado pelo próprio ex-presidente petista, e que falta na era Dilma, que adormeceu, em vez de despertar, o espírito animal do empresariado --a coragem e a ousadia de investir e buscar novas oportunidades.
A crise atual talvez seja uma oportunidade única para forçar o governo Dilma a despertar, de vez, para a agenda do investimento, acabando com amarras e tabus que só emperram obras e projetos públicos e privados. Para sua própria sobrevivência.
A presidente até tentou no primeiro mandato. Obteve algum sucesso, é justo reconhecer, mas jamais na dimensão necessária para tirar o país do atoleiro. Seu estilo intervencionista e controlador falou mais alto e não gerou a confiança necessária no empresariado para investir forte.
Como diz um empresário, o governo Dilma vive falando em despertar o espírito animal do empresariado, mas o trata sob rédeas curtas. Solta o bicho, presidente Dilma.
P.S.: Saio em férias, até março.
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