• Deputado teve 267 votos, contra 136 de Arlindo Chinaglia (PT-SP); Júlio Delgado (PSB-MG) recebeu 100 votos e Alencar ficou com 8
Ricardo Della Coletta, Daiene Cardoso, João Domingos e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff sofreu ontem uma importante derrota no Congresso com a eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara. Com 267 votos, ele derrotou o candidato oficial do Palácio do Planalto, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que recebeu 136 votos, 44 a menos do que a soma dos deputados que compunham o bloco que o apoiou. Júlio Delgado (PSB-MG), candidato da oposição, teve 100 votos e Chico Alencar (PSOL-RJ), 8 votos. Houve dois votos em branco.
Cunha vai suceder a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Com a reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado, o PMDB manteve os dois postos de comando no Congresso.
O governo federal ajudou Renan, mas trabalhou contra Cunha. Nos últimos dias, ministros próximos à presidente, como Pepe Vargas (Relações Institucionais), Jaques Wagner (Defesa) e Aloizio Mercadante (Casa Civil), fizeram intensa campanha pelo candidato do PT.
Considerado um desafeto pelo Palácio do Planalto, Cunha, ao tomar posse na presidência da Câmara, optou por um discurso conciliador. “O governo sempre terá, pela sua legitimidade, a governabilidade que a sua maioria poderá dar, no momento em que ela for exercida e se for exercida”, disse. “Passada a disputa, não faremos nenhum tipo de batalha.” Ele, porém, criticou a atuação do governo em favor de Chinaglia durante a campanha. “Assistimos à tentativa de interferência do Executivo, mas o Parlamento soube reagir e reagiu no voto.”
Depois, em entrevista coletiva, voltou a garantir a estabilidade política na sua gestão. “Não será a presidência da Câmara que vai provocar instabilidade. Não vamos ter estabilidade econômica sem estabilidade política. Somos responsáveis o suficiente para saber que o País precisa de estabilidade política”.
Ele anunciou que o segundo turno da reforma constitucional que cria o Orçamento impositivo será votado assim que forem cumpridos os prazos. O governo não quer a aprovação desse projeto. Cunha citou ainda outras duas prioridades do início de sua gestão: rever o pacto federativo, de modo a dar aos Estados e municípios condições de respirar diante da concentração de recursos na União, e fazer a reforma política. O primeiro item também não é bem visto pelo governo, pois se propõe a retirar poderes da União; o segundo é apoiado pela presidente Dilma e pelos partidos aliados de forma genérica, mas não há consenso quanto à forma como será feita a reforma política.
Cargos. Ao avaliar a derrota, Chinaglia admitiu que deputados do bloco que o apoiavam não votaram nele. “Uma parte dos aliados não votou em mim. O fato de você constituir bloco não garante voto”.
O PT foi duplamente perdedor. Na tentativa de assegurar votos para Chinaglia, os petistas abriram mão de outros cargos titulares na Mesa Diretora, cedidos a aliados. A primeira vice-presidência ficou com o PP; a segunda, com o PR; a primeira secretaria foi para o PRB, enquanto a segunda coube ao PSD; a terceira foi destinada ao PSDB e a quarta secretaria ao PTB.
Além disso, o PT e o governo tentaram, sem sucesso, um acordo com Cunha para que na próxima eleição a presidência fosse entregue a um petista.
O governo trabalhou com um cenário de derrota durante todo o dia. Antes mesmo de saber o resultado da eleição, o Palácio do Planalto mandou ao candidato do PMDB recados segundo os quais pretende iniciar um diálogo com o peemedebista a partir desta segunda-feira.
Antes da votação, na tentativa de se descolar da pecha de governista, Arlindo Chinaglia tentou convencer os deputados de que apenas pelo fato de ser do PT não seria submisso no comando da Câmara. “Se alguém imagina uma Câmara subjugada, é um erro imenso. Os partidos não permitirão, as bancadas não permitirão, nós não permitiremos. Somos um entre 513, somos iguais em nossas diferenças”, disse ele na tribuna.
Em seu discurso no plenário, o candidato do PSB, Júlio Delgado (MG), atacou a hegemonia do PMDB, que já tem a vice-presidência da República e a presidência do Senado.
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