Marina Falcão e Fernando Taquari – Valor Econômico
RECIFE e SÃO PAULO - O diretório pernambucano do PSB conseguiu inviabilizar a fusão com o PPS. A dois meses do primeiro aniversário da morte do ex-governador Eduardo Campos, que era o candidato presidencial da sigla em 2014, a seção de Pernambuco temia perder protagonismo dentro do partido. A ala pernambucana angariou apoio de Estados como Maranhão, Paraíba, Minas Gerais e Paraná, e criou uma ameaça de constrangimento para o PSB: não ter os dois terços dos votos necessários para aprovar a união.
Como o PPS é mais relevante em São Paulo do que no Estado do ex-governador Eduardo Campos, a fusão entre as siglas ameaçaria o poder do diretório pernambucano, que conta com 1/6 dos delegados do partido.
Carlos Siqueira, presidente do PSB, diz que a proposta da fusão jamais foi a de fortalecer o PSB como linha auxiliar do PSDB. "A ideia era a manutenção da independência e o fortalecimento do partido como terceira via", disse ao Valor.
Segundo Siqueira, a fusão não vai mais ocorrer no momento - o congresso do dia 20, quando a proposta seria aprovada, foi cancelado - porque o partido resolveu considerar as "ponderações" feitas por alguns diretórios, como o de Pernambuco. Entre as ponderações, ele destaca a existência de um entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que a fusão não cria um novo partido. "Na prática, poderia haver um espaço para membros se desfiliarem, mas não para novos ingressarem", explicou.
Principal nome da ala pernambucana, Paulo Câmara (PSB), governador do Estado e vice-presidente do PSB, aponta ainda para fato do Congresso ter negado o fim das coligações e a cláusula de barreira como uma das justificativas para que fusão não seja levada adiante.
"O processo estava muito em cima, a reforma política não saiu da forma como pensávamos e não tínhamos clareza da porta de saída [de membros do partido], se isso poderia nos enfraquecer", afirmou Câmara, após evento no Palácio do Campo das Princesas, no Recife, na semana passada.
No entanto, não foi apenas por precaução que Câmara, juntamente com o prefeito do Recife Geraldo Júlio (PSB), se mobilizou para barrar o processo. Segundo fontes do partido, ambos se sentem ameaçados de perder a herança de poder de Campos no PSB para o diretório paulista.
Um aliado do governo de Pernambuco diz que Paulo Câmara e Geraldo Júlio se incomodaram com o fato de não terem sido ouvidos nas discussões iniciais sobre o processo de fusão. Por conta disso, teria sido necessária a interferência da viúva do ex-governador Eduardo Campos, Renata Campos, para que a opinião do diretório estadual tivesse ganhado força.
Câmara e Júlio negam que tenha havido interferência de Renata. "Mas se ela tivesse falado, seria muito bem ouvida, como sempre é", afirmou Câmara ao ser questionado sobre o tema pelo Valor. Sileno Guedes, presidente do PSB em Pernambuco diz que Renata e Carlos Siqueira, presidente nacional da sigla, sempre conversam e, "como militante ativa, Renata deve ter exposto sua opinião, que é contrária a fusão".
Câmara e Júlio não encontraram no senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) o mesmo apoio que receberam de Renata. Coelho foi um dos maiores defensores da fusão sob o argumento de que o partido precisava crescer para se consolidar como uma terceira opção viável. Desde o fim do ano passado, quando declarou insatisfação com a escolha do secretariado de Câmara, o senador se afastou do grupo do governador.
Publicamente, Câmara e Júlio dizem que união dos partidos precisaria de mais prazo para ser discutida. "Em muitos locais vamos ter uma coligação com PPS. Enquanto isso, nós vamos discutir para acabar com as arestas internas nos estados para que essa fusão possa acontecer mais a frente".
Ainda segundo Câmara, o PSB está trabalhando em decisões que unam o partido. "Quando apoiamos Aécio, foi uma decisão do âmbito nacional. A posição de independência [em relação ao governo federal] também foi debatida", diz Câmara.
Embora o início da fusão tenha sido anunciada com bastante otimismo pelo PSB e PPS em abril, Geraldo Júlio faz questão de frisar que o partido não retrocedeu de uma decisão tomada. "O que houve foi uma abertura da discussão sobre a fusão. E não uma decisão sobre a fusão que depois voltou atrás", disse.
Para Júlio, é preciso mais debate para entender exatamente como uma fusão se dá. "Não é uma coisa simples, não é uma coisa corriqueira. Não se tem histórico de fusão de partidos no Brasil."
Sem a união jurídica pretendida em especial pelo PSB de São Paulo, as siglas devem firmar alianças políticas em várias cidades em 2016. Para o deputado Júlio Delgado (PSB), de Minas Gerais, não faz sentido voltar a discutir fusão em ano eleitoral. "Não é propício, pois estaremos focados na construção de alianças e candidaturas", afirmou Delgado. (Colaborou Raphael Di Cunto, de Brasília)
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