Julianna Granjeia, Catarina Alencastro e Isabel Braga - O Globo
• Vaiado por petistas, presidente da Câmara prega fim de aliança em 2018
• Em meio à troca de ofensas com o PT, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, reuniu- se com grupos críticos a Dilma.
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Dois dias depois de ter seu nome vaiado no 5° Congresso do PT, em Salvador, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), teve um encontro fora da agenda ontem com representantes de 17 movimentos anti- Dilma em São Paulo. Os grupos integram a Aliança Nacional de Movimentos Democráticos, que reúne as diversos movimentos de ativistas que organizaram os protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff no início do ano, como o Revoltados Online e o Movimento Brasil Livre.
Entre os presentes, estava o advogado Danilo Amaral, um dos líderes do Movimento Acorda Brasil, que hostilizou o ex- ministro petista Alexandre Padilha em um restaurante, em maio. Segundo Cunha, os líderes falaram sobre a reforma política e o projeto de lei 867, do deputado Izalci ( PSDB- DF), que cria o Programa Escola Sem Partido para impedir “doutrinação política e ideológica em sala de aula”.
— Eles me convidaram. Eu os recebi em Brasília e falei que debateria a pauta com eles. E foi isso. Eles têm uma série de pautas, muitas que estão em andamento na Casa, como a do Escola Sem Partido, que vou colocar para votar, e outros temas. Debati com eles, como debateria com outros. Não me cabe fazer juízo de valor dos movimentos — disse o presidente da Câmara.
A aproximação do presidente da Câmara — que havia se posicionado contra o impeachment na época dos protestos — com os grupos anti- Dilma é mais um capítulo da troca de acusações públicas entre ele e petistas desde que a menção ao nome dele foi vaiada no congresso do PT, no fim de semana.
Correntes minoritárias do PT pediram o fim da aliança com o PMDB já nas eleições de 2016 e apontaram o partido de Cunha como “sabotador do governo”. O deputado devolveu os ataques no Twitter. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” — publicada no domingo, mas realizada na quinta- feira —, ele já demonstrava concordar com seus críticos no PT ao prever que dificilmente se repetirá em 2018 a aliança que reelegeu Dilma em 2014, com Michel Temer ( PMDB) como vice. Ontem, reforçou o ponto de vista:
— Quando você começa a ter mais divergência do que convergência, você não tem aliança.
Em Brasília, coube ao ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, tentar apagar o incêndio. Na saída da reunião de coordenação política com a presidente Dilma Rousseff, ele negou um mal- estar entre o governo e Cunha, e até classificou o diálogo com ele de “excepcional”.
— Não existe crise. Existe uma posição de muito respeito do governo em relação ao presidente da Câmara, como existe em relação ao presidente do Senado ( Renan Calheiros) — disse o ministro. — O importante é que os interesses do país estejam colocados acima de outros interesses. Nesse sentido, o diálogo com o presidente Eduardo Cunha tem sido excepcional.
À tarde, na chegada a Brasília, Cunha manteve o tom, mas fez uma ressalva em relação ao governo. Disse que reagiu apenas ao partido da presidente.
— O PMDB tem compromisso com a governabilidade. Não rompeu. Não vejo do governo atos que possam vir contra mim. Eu reagi ao PT. O governo não me atacou, quem me atacou foi o PT — disse. — O PT sempre insiste em agressões. Não foi só coro ( no congresso). Teve pessoas defendendo a aliança atacando. É ataque continuado.
Cunha negou que o desentendimento com o PT afetará a votação de medidas de interesse do governo, como a que altera desonerações, parte do ajuste fiscal. Prometeu que vai colocar projetos para votar mesmo na semana das festas de São João, que levam deputados do Nordeste às suas bases. Na seguinte, do dia 30, quer votar a maioridade penal sem interromper a votação da reforma política e do ajuste:
— Como presidente da Casa, não altera minha posição. Minha pauta continuará a mesma.
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