Valdo Cruz, Marina Dias, Eduardo Cucolo – Folha de S. Paulo
• Dilma precisa vetar ou sancionar até quarta mudança na regra, feita pelo Congresso, que eleva rombo da Previdência
• Resistência de centrais faz governo desistir de negociar e partir para texto que eleva fator 85/95 gradualmente
BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff já discute o texto de uma medida provisória ou projeto de lei para criar uma fórmula progressiva de cálculo das aposentadorias, apesar de a presidente ainda não ter decidido oficialmente se vetará a alternativa aprovada pelo Congresso, a chamada fórmula 85/95.
Uma das ideias é fixar como ponto de partida o próprio dispositivo 85/95, que seria elevado gradualmente até atingir 90/100.
Tecnicamente essa nova soma da idade e do tempo de contribuição no momento da aposentadoria teria efeitos semelhantes para Previdência aos das regras atuais, do fator previdenciário, que visa brecar aposentadorias precoces e continuará a existir.
Em reunião com as centrais sindicais nesta segunda-feira (15), o governo desistiu de apresentar essa nova proposta em substituição a um eventual veto da presidente à fórmula 85/95.
Os sindicalistas resistem a qualquer proposta que não seja a sanção do texto aprovado pelos congressistas.
Pela fórmula 85/95, mulheres podem se aposentar quando a soma do tempo de contribuição e da idade atingir 85, e homens, quando o resultado chegar a 95.
Como a mudança ameaça as contas da Previdência no médio e longo prazo, o governo pretendia acertar com as centrais uma alternativa, que seria encaminhada ao mesmo tempo em que o fator 85/95 seria vetado.
No entanto, de acordo com assessores presidenciais, o governo Dilma desistiu da ideia alternativa ao ser avisado de que as centrais não aceitariam outra proposta que não fosse a sanção, sem vetos, da fórmula 85/95.
A equipe optou, então, por apresentar aos sindicalistas cálculos de como ficarão as contas da Previdência se a nova regra passar a valer.
Durante o governo da petista (o atual mandato termina em 2018), haveria economia de R$ 12 bilhões.
Depois, porém, os gastos começariam a aumentar, atingindo uma despesa adicional para Previdência Social até 2060 de R$ 3,2 trilhões --mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto) do ano passado.
A presidente precisa sancionar (ou vetar) até esta quarta-feira (17) o texto aprovado pelo Congresso.
O discurso oficial, repetido o dia todo pelos ministros, foi o de que a presidente ainda não tomou uma decisão final sobre o veto. Reservadamente, porém, diziam que a tendência era de veto.
Clima de tensão
A reunião de quase duas horas entre governo e centrais sindicais ocorreu em clima de tensão. Depois de deixarem o encontro, os sindicalistas se mostravam irredutíveis em aceitar alternativa que não fosse a sanção.
"O governo não apresentou proposta nenhuma. Ele queria saber a opinião das centrais e não quis dizer a sua", reclamou o presidente da CUT, Vagner Freitas.
"Queremos que o diálogo [com as centrais] siga independentemente da decisão que a presidente tomar. E ela ainda não tomou uma decisão", afirmou o ministro Carlos Gabas (Previdência).
No encontro do governo, ficou decidido ainda que a proposta de fixar uma idade mínima por meio de emenda constitucional será discutida no fórum que debaterá mudanças na Previdência Social com os sindicalistas.
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