- Folha de S. Paulo
Não é bom amplificar a voz de políticos que pregam a intolerância e a divisão da sociedade. O debate público não avança nada, mas eles ganham o espaço que tanto procuram. Sem eco às suas polêmicas fabricadas, bolsonaros e felicianos teriam menos chance de se eleger.
A regra deve ser quebrada se a verborragia passa a ameaçar direitos fundamentais. Isso ocorreu na última quarta, quando deputados da bancada evangélica interromperam uma votação para atacar a Parada Gay e rezar no plenário.
Naquela noite, subiu à tribuna o deputado Capitão Augusto, que desfila pela Câmara de farda da PM. Em resposta a Roberto Freire, que havia criticado a mistura de fé e política, ele disse o seguinte: "A democracia, antes de mais nada, é o respeito da vontade da maioria. Enquanto nós, cristãos, formos maioria no Brasil e maioria nesta casa, vossa excelência, assim como os demais ateus, têm que respeitar a nossa vontade".
A democracia é o regime de governo da maioria, mas só existe quando as minorias são respeitadas. Nenhum grupo hegemônico pode tirar direitos de quem tem menos poder. Um país onde a "vontade da maioria" se impõe "antes de mais nada" é uma tirania. Para entender isso, o deputado não precisa ler Tocqueville. Basta folhear a Constituição.
Eleito pelo PR, o capitão quer criar o Partido Militar Brasileiro. Diz estar indeciso entre o número 38, em referência ao revólver, e o 64, em homenagem ao golpe. Defensor da pena de morte, ele é um retrato da direita tacanha que ganha força no Congresso. Figuras assim sempre circularam nas sombras, mas agora contam com um aliado poderoso: o deputado Eduardo Cunha, que controla os holofotes da Câmara.
Primeiro o pai, depois o filho, agora o irmão. Nas mãos da família Bush, o Partido Republicano vai se transformando numa versão americana do PMDB do Maranhão.
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